(a propósito do livro de Robert Wilson «A Companhia de Estranhos»)
O escritor de policiais Robert Wilson teria tanto êxito editorial em Portugal se não tivesse escolhido o Alentejo para viver? A verdade é que ainda faz parte da arte de ser português uma certa parolice - herdada do Estado Novo! - que exalta os egos se nos virmos prendados com a atenção de quem vem do Norte da Europa ou dos Estados Unidos.
Quando peguei em «A Companhia de Estranhos» não estava, propriamente, à espera de um John Le Carré, mas também não colocava tão baixa a fasquia quanto à sua qualidade.
O que encontrei foi uma história romântica entre uma espia britânica e um alemão com a Lisboa da Segunda Guerra como pano de fundo, sem que Wilson tenha dedicado particular atenção à recolha de dados para a fazer credível.
Só para exemplo temos às tantas uma cena movimentada, que leva uma das personagens principais a seguir pela Calçada Ribeiro Santos, como se o militante do MRPP assassinado em 1972 já tivesse então e com direito a homenagem toponímica.
Mas esse é apenas uma falha de muitas outras, que se vai podendo detetar num livro projetado para um tipo de leitor pouco exigente e, sobretudo, interessado em tranquilizar os seus receios atávicos mediante uma vitória esforçada dos bons e do castigo dos maus. Mesmo se, pelo meio, e para tudo não parecer tão maniqueísta, morrerem uns quantos bons, deixando aos que ficam alguns compromissos mais ambíguos.
Por isso, depois de se julgar viúva antes do tempo, a espia inglesa retoma a atividade muitos anos depois para se colocar ao serviço do Kremlin e reatar o fio da história interrompida em Lisboa.
A história romântica prossegue em Berlim e em Londres até à morte dos protagonistas. Deixando um mundo a contas com os seus equívocos e contradições.
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