sábado, 22 de fevereiro de 2014

OBRA DE ARTE: Louis Léopold Boilly: «Reunião de Artistas no Atelier de Isabey» (1798)

A obra deste pintor estende-se por mais de setenta anos e compõe-se de milhares de quadros, desenhos e litografias, que constituem preciosos testemunhos dos costumes da sociedade francesa entre o reinado de Luís XVI e a monarquia de Julho.
Ainda muito jovem, Boilly começou a destacar-se como retratista e decorador. Como não pertencia à Academia Real, que reservava para si as exposições no Salão Oficial do Louvre, expunha as suas obras ao ar livre, nomeadamente na Exposição da Juventude em 1788.
O início da Revolução permite-lhe criar uma galeria de retratos dos novos homens políticos. No período do Terror, esforça-se por pintar temas cívicos com um «Triomphe de Marat» (1794), ainda que não particularmente inspirado. É que ele revelava-se bem mais à vontade nas cenas de género, deixando-se influenciar pela obra dos holandeses Ter Borch ou Pieter de Hooch para criar um conjunto de cenas da vida quotidiana, de que é exemplo «L’Averse», (c. 1805) que está no Museu do Louvre.
Dos interiores burgueses e dos retratos de grupo, ele realça uma discreta poesia, como acontece com «Atelier de Houdon avec sa famille» (1804) ou os da família Oberkampf tendo por fundo a fábrica de Jouy.
A cena de género permite-lhe demonstrar as suas maiores qualidades: a rapidez em quadros de pequeno formato, a pincelada minuciosa ainda que entediante por ser lisa, e as cores claras graças a um verniz por ele inventado.
Cada cena é o ponto de partida para numerosas réplicas mais pequenas, para litografias que acabam por constituir estudos do que via nas ruas, nos salões ou nos cafés, na época do Consulado e do Império.
Eram temas frívolos, que agradavam a um público, que andava à procura de histórias pitorescas com uma pitada de emoção. Como é exemplo «L’Arrivée de la Diligence dans la cour des Messageries» (1803).
Muito interessado na moda, Boilly colabora com as publicações a ela dedicadas: «Journal des dames et des modes» e com «Le Bon Genre».
A partir de 1823, cria uma série de litografias, «Les Grimaces», que era uma divertida sátira a certas pessoas, mais do que à sociedade da Restauração.
Ainda que herdeiro dos pintores de género do século XVIII, Boilly integra-se entre os mestres da pintura do século XIX.
O QUADRO
O cenário do atelier de Isabey, pintado por Boilly tal qual existia então,  é,  em si mesmo um quadro alegórico perfeito dessa tertúlia artística. No centro está em evidência Minerva, a protetora das artes, rodeada de duas alegorias pintadas na parede: «A Pintura» (á esquerda) e «A Escultura» (à direita).
No friso superior destacam-se medalhões dos mais ilustres pintores italianos, que tanto influenciavam os artistas de então: entre eles Veronese, Ticiano, Miguel Ângelo, Rafael (em lugar de honra ao centro, por cima de Minerva) ou Leonardo da Vinci.
Todos os rostos de quem está no atelier dispõem-se em friso, no meio do quadro, para evidenciar a pertença comum a um grupo.
Como sucede muitas vezes nos retratos de grupo, este representa uma cena real. Os artistas estão vestidos à última moda, discutem entre si, olham desenhos ou uma obra de Isabey disposta no cavalete.
O realismo da cena valeu-lhe um enorme sucesso no Salão de 1798, merecendo então este comentário de um dos principais críticos de arte dessa época: Gostamos de encontrar a representação de tão célebres artistas. Aqui, a sua caricatura foi fixada com gosto, ainda que se deva menos ao talento do artista do que a quem ele representa, a justificação para o apreciarmos.


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