O Serial é um produto de consumo corrente nos anos 30 e 40 nos EUA. À Europa só chegou em versões condensadas, com montagens diferentes das originais. Massacrado por tratos de polé e em quantidade muito reduzida em relação aos 231, que se rodaram entre 1929 e 1956. Daí que, embora nos tenham chegado ecos desses «filmes em trinta e uma partes», que encantaram os nossos avós e bisavós, continuam a constituir um mundo desconhecido.
Mas também um mundo cheio de imaginação e de delírio, de loucura e de humor: um universo recheado de heróis grandiosos e de mauzões pitorescos, invenções maravilhosas e histórias fantásticas. E com um potencial onírico único nos anais da Sétima Arte.
O Serial está para o Cinema como a Banda Desenhada para a Literatura. Nascido na época do cinema mudo, deliciou as salas populares no final da Primeira Guerra Mundial. Desprezado pelos mais sofisticados, suscitava uma participação atenta e apaixonada do público das salas mais obscuras.
Os seus primórdios remontam à segunda década do século XX, quando «Fantomas» de Louis Feuillade (1913-1914), baseado num folhetim de Pierre Souvestre e de Marcel Allain, estreou-se em França e «Mistérios de Nova Iorque» de Louis Gasnier surgiu no outro lado do Atlântico.
Foram essas duas obras, que lançaram a moda, depois de algumas outras, anteriores, terem passado quase despercebidas: «Nat Pinkerton» (1911), «Nick Carter» (1912) e as primeiras tentativas de traduzir Sherlock Holmes em linguagem cinematográfica.
O primeiro verdadeiro serial - conforme com as regras posteriores do género - parece ter sido «What Happened to Mary» produzido em 1912 pela Edison Company. Constituído por doze episódios, foi produzido para ir coincidindo com a publicação do folhetim homónimo na revista feminina «The Ladies’ World» a partir de 26 de julho de 1912. Seria, igualmente, complementada com uma peça de teatro e um romance, pelo que é um dos primeiros exemplos de uma campanha de marketing a explorar simultaneamente diversos meios de comunicação.
A história fora criada por Horace G. Plympton e a realização era de Charles Brabin. Mas quem verdadeiramente se destacava era a protagonista, Mary Fuller, uma atriz de 23 anos, que já andava nas fitas desde 1907 e aqui dispensava qualquer duplo para as movimentadas cenas de ação.
A mesma revista «The Ladies’ World» lançou um concurso em que as leitoras deveriam adivinhar o que iria realmente acontecer a Mary. O prémio de 100 dólares foi ganho por uma californiana, que aventou o resgate de Mary por um garboso jovem no seu carro.
O sucesso foi tal que, no ano seguinte, o serial teve uma sequela intitulada «Who Will Marry Mary?».
Infelizmente, nenhuma desses serials sobreviveram aos percalços do tempo...
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