O que é que sabemos do nosso ventre, esse órgão cheio de neurónios, que os cientistas só agora começam verdadeiramente a estudar? Segundo essas experiências impressionantes, pode-se concluir que o cérebro está longe de ser o único piloto ao leme do nosso corpo.
Alguns anos atrás, os cientistas descobriram a existência de um segundo cérebro no nosso corpo. De facto, o nosso ventre possui duzentos milhões de neurónios que vigiam a nossa digestão e trocam informações com a nossa “cabeça”.
Os cientistas só agora estão a descodificar essa conversa secreta, apercebendo-se, por exemplo, que o nosso cérebro entérico, o do ventre, produz 95% da serotonina, um neurotransmissor que participa na gestão das nossas emoções.
Já se sabia que, consoante as nossas emoções, assim se comportava o sistema digestivo. Mas conclui-se que o inverso também é verdadeiro: o segundo cérebro também influencia nas nossas emoções.
Algumas destas descobertas abrem imensas expectativas terapêuticas. Doenças neuro degenerativas, como a de Parkinson, poderão ter origem no ventre. Começariam por atacar os neurónios do nosso intestino, hipótese que, se for comprovada, permitirá uma despistagem mais precoce.
Ainda mais espantosa é a descoberta da notável colónia de cem biliões de bactérias cuja atividade influencia a nossa personalidade e escolhas, fazendo-nos tímidos ou, pelo contrário, aventureiros.
Este documentário de 2013, com numerosas entrevistas e infografias esclarecedoras, faz um ponto de situação sobre as experiências mais recentes nesse segundo cérebro.
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Os cientistas aperceberam-se da existência de uma enorme quantidade de neurónios no nosso ventre, equivalente à existente no córtex de um gato ou de um cão. E que se ocupam, sobretudo, com a nossa digestão.
Se o corpo só dispusesse do cérebro de “cima”, o ser humano ficaria absorvido durante demasiado tempo com o complexo processo da digestão, não lhe sobrando tempo para se dedicar a outras atividades intelectuais.
O facto de contarmos com dois cérebros explica muito do que connosco se passou em termos de evolução.
(…) Compreendeu-se que a doença de Parkinson que, como se sabe, ataca os neurónios do cérebro, também atinge os do ventre. Alguns cientistas interrogam-se se ela não começa precisamente aqui. Tanto mais que essa doença degenerativa inicia-se bastante antes de surgirem os primeiros percalços motores.
Ora, quando chegam essas tremuras, já é demasiado tarde porque 70% dos neurónios já foram afetados.
Se se conseguir diagnosticar a doença vinte anos mais cedo, através de uma simples biópsia intestinal de rotina, poderíamos prever essa destruição de neurónios.
Em Nantes, uma equipa científica procura demonstrar que o hipotético estudo da biópsia intestinal permitiria substituir o bem mais perigoso exame ao cérebro. O que já é certa é a possibilidade de recorrermos aos milhões de neurónios intestinais para garantirmos uma janela para o que se passa no cérebro.
(…) O nosso ventre contém dez vezes mais bactérias do que células! E muitos dos genes que herdamos é muito inferior aos das bactérias. Trata-se, pois, de uma verdadeira revolução científica, porque conclui-se de uma interligação entre as bactérias herdadas dos nosso pais com as existentes para modificarem o nosso organismo. O que equivale a reconhecer o nosso organismo como um ecossistema perturbador, porque desconhecemos essas bactérias maioritariamente albergadas dentro de nós.
Está aberto um campo de investigação muito prometedor!
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