Num elucidativo documentário quanto à forma como os suspeitos do costume - Goldman Sachs, Merryll Lynch, J.P. Morgan, etc. - andam a criar as condições para uma nova crise suscitada pela especulação em torno de produtos derivados, assentes em certificados ecológicos, a ativista indiana Vandana Shiva diz muito apropriadamente que a financeirização da economia mundial é um tremendo cancro, que se instalou não só na organização das sociedades contemporâneas, mas também nas próprias cabeças das pessoas, que aceitam as regras de uma realidade virtual como é a das Bolsas.
Já neste milénio as empresas que lideram o sistema capitalista concluíram não ter grande futuro se não encontrassem formas mais imaginativas de negociar novos produtos financeiros.
A globalização e a desregulação dos constrangimentos à sua atividade já não constituía resposta, porque a lógica do sistema assenta numa necessidade contínua de crescimento sob pena de morrer.
Foi assim que os bancos americanos inventaram os subprimes através dos quais serviram-se do sonho americano em ter casa própria para dar a efémera ilusão de tal ser possível e cobrarem depois a fatura a milhões de gente pobre, que acabou despejada na rua.
Nesta altura esses mesmos protagonistas estão a querer dar um preço a tudo - à água que bebemos, ao ar que respiramos, às abelhas que polinizam os campos, às florestas onde vivem espécies em extinção, etc. - e andam-nos a comercializar dentro da lógica de quanto menos recursos da Natureza existirem mais valiosos se tornam, constituindo assim uma boa oportunidade de negócio.
A multinacional Vale é um exemplo interessante de como o esquema funciona: por devastar grandes áreas da floresta amazónica com as suas prospeções mineiras, a empresa comprou certificados, que a obrigam a reflorestar milhares de hectares entretanto desertificados. Mas escolheu para o efeito a plantação de eucaliptos com cuja venda conseguirá grandes receitas, mesmo que à custa da erosão irreversível desse solo que, em apenas trinta anos, ficará transformado numa área sem préstimo.
Está, pois, em curso uma luta de morte entre um sistema predador, que procura a sobrevivência sem cuidar das consequências das suas decisões empresariais e os defensores da natureza, que a pretendem respeitada num novo tipo de sociedade apostada no crescimento sustentável. E é mesmo um combate mortal, porque se é o capitalismo selvagem a vencer depressa chegará o momento em que a espécie humana deixará de ter condições para sobreviver num planeta delapidado. Um outro sistema económico e uma forma diferente de olhar para a biodiversidade terrestre, constituem o imperativo de uma transformação política à escala mundial.
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