Creio que foi o João Galamba quem, no «Sem Moderação» (Canal Q) desta semana, classificou Donald Trump como o típico candidato de uma sociedade pós-verdade. Porque começa a ser inquietante esta tendência dos eleitores em votarem em quem lhes mente com tanta facilidade, comportando-se com a falta de padrões éticos minimamente exigíveis a quem aspira desempenhar cargos públicos.
A América dos códigos morais extremamente austeros, que tornava inelegíveis, ou passíveis de impugnação, os políticos que se atrevessem a mentir á opinião pública, transformou-se numa feira de horrores onde se é tanto mais votado quanto se for mais boçal e fraudulento. Pelo menos no campo republicano, já que, entre os democratas, ainda nada de semelhante se produziu. Por isso mesmo será interessante constatar se, no final desta campanha para as Primárias acontece a confirmação dos vaticínios de alguns comentadores, que colocam a séria possibilidade da implosão do partido de Abraham Lincoln.
A tal acontecer - e desejo tanto que isso suceda! - poderemos dar por findo este processo, quase levado até ao paroxismo, de uma sociedade que premeia a mentira e nega qualquer sentido ao factual.
Por cá também contamos com tal tipo de gente que apoia os Trumps locais: um dia destes, num «Opinião Pública» da Sic Notícias, um energúmeno recuperava boatos, já mais do que desmentidos na sua veracidade, sobre as supostas atividades ilícitas de João Soares quando quase morreu num acidente aéreo em Angola e acabava a dar vivas a Salazar.
Com biltres desta dimensão, que nos resta senão fazer todos os possíveis por os contrariar nessas convicções em que tanto querem crer e fazer crer?
Mas estes mesmos biltres são capazes de apoiar Passos Coelho apesar de todos os danos por ele praticados durante quatro anos contra a generalidade dos portugueses e até acharem muito bem que Maria Luís Albuquerque vá vender informações que deveria estar impedida de comercializar, tornando-se alta funcionária de um dos mais asquerosos abutres da especulação financeira na City.
Precisamos de uma barrela enérgica a certas cabeças, que estão cheias daquilo que, às vezes, se lhes cola às solas dos sapatos. E só muitos anos consecutivos de uma outra política, mais competente e asseada, tornará isso possível...
Importa pois dar à direita a merecida travessia no deserto...
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