Até ontem de manhã a luta dos suinicultores portugueses, não me merecia particular simpatia, por causa da frequência com que conspurcam clandestinamente os rios, riachos e outras linhas de água, mas também não me suscitava especial animosidade. Reconheço até que, nas mais recentes deslocações aos hipermercados, a preferência dos produtos portugueses tem sido uma regra no leite, nas laranjas, nos morangos, na carne ou no peixe. Por solidariedade com quem produz made in Portugal.
No entanto cheguei ao fim da tarde em decidida oposição a esse grupo de agricultores tendo em conta a forma terrorista como procuraram agir contra o governo. Contra o anterior, apesar de ter apoiado todas as decisões europeias que conduziram ao aumento de stocks nos mercados, nunca lhes ouvi mais do que tíbios lamentos, enquanto para este já consideram excessivos os três meses decorridos para lhes arranjar soluções.
Não possuo provas em como eles serviram de joguetes a quem quer testar a determinação dos vários ministros face a protestos desestruturados, oriundos de apelos anónimos e com cadernos reivindicativos onde se pedem as mais absurdas benesses, mas que tudo parece indicá-lo, não tenho dúvidas.
Apesar de já se terem reunido várias vezes com Capoulas Santos e ouvirem-no assumir compromissos e propostas tendentes a aliviar-lhes os problemas, esses contestatários de nada quiseram saber: o mínimo que lhe exigiam era que, sem lhes terem pedido audiência, os recebesse e garantisse, por exemplo, que obrigaria a União Europeia a acabar com as sanções à Rússia de Putin … que Passos Coelho apoiara numa Cimeira Europeia.
A SIC, que tem feito uma campanha despudorada contra António Costa e decidiu apoiar a reivindicação dos suinicultores com vários repórteres a acompanhá-los a par e passo, nem sequer conseguiu controlar o que eles iam revelando de si mesmos: entrevistando o motorista de uma carrinha de uma empresa só indiretamente relacionada com o setor este confessava ter vindo para ali a mando do patrão, para quem trabalhava há pouco tempo e não sabendo sequer os motivos porque se pusera a entupir o trânsito na Segunda Circular.
Obviamente que Capoulas dos Santos não podia ceder à chantagem a que o queriam submeter até por não ser difícil adivinhar o que estava a acontecer nas saídas de Lisboa: a justa indignação de muitos automobilistas condenados a perder tempo e combustível por algo tão absurdo. Muitos terão decidido, como é o meu caso, que a preocupação com o consumo do que é nacional continuará no leite, nas laranjas, nos morangos ou no peixe, mas quanto à carne de porco há que evitá-la porque fiquei esclarecido quando ouvi um suposto presidente da associação representativa destes produtores dizer do governo o pior possível e incentivando Marcelo a «pô-lo na ordem». Nesta sexta-feira os suinicultores aceitaram ser soldados dos que são os maiores culpados pela situação em que vivem e se acoitam na sombra, esperançados em conseguir deles a criação do terreno propício a regressarem ao poder.
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