Na festa que acompanhou a tomada de posse para o primeiro mandato, Obama contou com um dos meus heróis de estimação na musica popular norte-americana: o lendário Pete Seeger que, até à sua morte em janeiro de 2014, sempre foi um modelo de coerência na forma progressista como analisou as lutas dos seus compatriotas. Ver o cantor que celebrizou «We Shall Overcome» a dar o beneplácito ao primeiro negro a habitar a Casa Branca constituía um dos mais evidentes sinais de como algo de novo poderia acontecer a oeste.
Convenhamos que a forma como Barack Obama geriu estes nove anos de presidência estiveram aquém das minhas expetativas de então, mas tem a seu favor o facto de ter contado durante grande parte deste período com maiorias a si desfavoráveis no Senado e na Câmara dos Representantes.
Ter conseguido concretizar o Obamacare quase constituiu uma epopeia apesar de nada ter de semelhante com o tipo de Serviços de Saúde propiciados na grande maioria dos países europeus. Estabelecer relações (quase) normais com o regime iraniano foi outro dos pontos a seu favor. Ou este reencontro com Havana onde nenhum dos seus predecessores se aventurara nos últimos 90 anos.
Parafraseando uma canção de Sérgio Godinho “hoje (ainda) sabe-me a pouco”. Porque, apesar de tudo, nada fez para evitar uma repetição da crise financeira como a de 2008, o que implicava voltar a impor a separação entre a banca comercial e a banca de investimento. Ou prosseguiu, e até desenvolveu, o permanente atentado à privacidade dos cidadãos de todo o mundo com as atividades da NSA denunciadas por Edward Snowden. E, para regressar no que a Cuba diz respeito, não cumpriu a promessa de fechar a prisão de Guantanamo, quanto mais abandonar essa base, que continua a constituir uma ofensa ao orgulho do povo da ilha onde é agora tão bem recebido.
Por isso mesmo, se Pete Seeger esteve na festa para a tomada de posse no primeiro mandato, já não compareceu na segunda e não creio que fosse apenas devido à sua já proveta idade. Porque Obama não questionou muitos dos paradigmas da política interna e externa norte-americana nestes sete anos e por isso visita um país onde os padrões de cuidados médicos à população e a qualidade do ensino público estão a níveis incomensuravelmente acima dos praticados no seu próprio país. Porque se a maioria dos cubanos vive na pobreza essa é também, e infelizmente, a realidade de milhões e milhões de norte-americanos para quem a terra do tio Sam não corresponde em nada à falácia da das oportunidades.
Podemos congratularmo-nos com um passo decisivo para acabar com o bloqueio a Cuba, mas os EUA de Obama ainda são a mesma superpotência, que considera como aliados gente tão sinistra como Erdogan na Turquia, Netanyahu em Israel ou a dinastia Al Saoud na Arábia Saudita. E esse é um legado, que macula indelevelmente ambos os mandatos.
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