O fim-de-semana da Páscoa continuou a ter o terrorismo como assunto na ordem do dia até pelas seis dezenas de mortos no atentado em Lahore (Paquistão), que vitimou, sobretudo, mulheres e crianças.
É verdade que, como Daniel Oliveira demonstrou no «Eixo do Mal» a Europa até tem sido relativamente poupada ao fenómeno em comparação com o que acontecia décadas atrás, quando diversas organizações políticas de extrema-esquerda e de extrema-direita eram notícia pelas piores razões quase todos os dias. Mas quem pode ignorar a responsabilidade do Ocidente em abrir uma caixa de Pandora no Médio Oriente, não só para proteger o sionismo cada vez mais radical de Israel, mas sobretudo os interesses das companhias petrolíferas na região?
Devido aos interesses da BP, da Total, da Exon e de tantas outras multinacionais do petróleo, derrubaram-se ditaduras laicas onde os fenómenos de extremismo religioso estavam contidos e pouparam-se outras, bem mais revoltantes como a da Arábia Saudita, donde saem muitos dos financiamentos para a Al Qaeda, para o Daesh e para a proliferação de mesquitas por toda a Europa, muitas das quais dominadas pela perspetiva mais radical da leitura do Corão.
Como continuam sem aprender nada com os erros do passado, os líderes do Conselho Europeu acabaram por firmar um acordo vergonhoso com a Turquia, cujas relações com o Daesh e outros grupos anti-Assad são mais do que óbvias. E não se ouviu ainda nenhuma intenção em pôr fim à escandalosa venda de armas para esses regimes, que muito provavelmente acabarão por ir parar, por portas e travessas, aos artífices do terror bombista.
Gente insuspeita como Pedro Marques Lopes questiona-se se não teria sido preferível deixar Kadhafi à frente da Líbia em vez de assistir agora ao financiamento do Daesh através do controlo do tráfico do número cada vez maior de desesperados, que vêm à procura na Europa de um el dorado inexistente. Com o efeito perverso de darem assim mais combustível aos movimentos de extrema-direita, que já ousam testar a firmeza das Democracias a seu respeito como se viu com a provocação de ontem à tarde em Bruxelas.
No caso da Líbia houve o empenhamento direto de Sarkozy no derrube do ditador, que lhe financiara anteriormente as campanhas eleitorais e, no entanto, não estivesse atolado até ao pescoço num caso de corrupção e tê-lo-íamos apostado em substituir Hollande no Eliseu. Como se esse crime, mais do que documentado, não fosse razão bastante para o levar para a companhia de Karadzic em Haia.
O atual caos na Síria, no Iraque e na Líbia deveria iluminar as cabeças dos líderes europeus e levá-los a pôr em causa todos os pilares em que assentaram a estratégia para encararem com sageza a existência de comunidades muçulmanas nos seus próprios países e como as opções geopolíticas merecem ser completamente alteradas.
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