É uma regra, que não há como contornar: os indicadores revelam com algum atraso os resultados de uma boa ou má governação. Por isso mesmo ainda andaremos às voltas com muitos números inquietantes como resultado dos quatro anos de destruição de valor humano e empresarial para o nosso país como corolário lógico da aplicação da ignóbil política austeritária. E o que de pior podemos constatar é a demora levada pelos seus autores e inspiradores - de Schäuble a Dijsselbloem - culpados de continuarem a apostar em receitas mais do que esgotadas.
O recente relatório sobre a Saúde Mental em 2015 confirma o que se adivinhava: nunca tantos desesperados se suicidaram no nosso país. Confirmados estão 1154 casos a que se deverão somar muitos dos que constam dos 20% de óbitos por razões indeterminadas.
O documento também é explicito na tendência para o aumento das mulheres a tomarem essa decisão: elas, que costumavam ser mais resilientes em relação às agruras da vida, estão a atirar a toalha ao chão como resultado das depressões e ansiedades suscitadas pela crise económica.
Poder-se-á inocentar Passos Coelho destas mortos na qualidade de homicida, mesmo que involuntário? A meu ver, não, tendo em conta que o imperativo de qualquer governante deverá ser o contributo para uma melhor qualidade de vida dos governados, algo que o ex-primeiro ministro nunca aprendeu ou quis aprender. Mas, ao apostar na aplicação de um modelo ideológico, que preteria os mais pobres para favorecer os mais ricos, ele não poderia ignorar os dramas humanos, que estava a suscitar.
Ainda ontem também se concluiu que nunca se poupou tão pouco em Portugal: no ano transato os portugueses só dedicaram 4,2% dos seus rendimentos para esse objetivo. O que é menos de metade do que sucedia em 2010, antes da chegada da direita à (des)governação do país. Empobrecidos e precarizados, os portugueses veem-se condenados à lógica da «chapa ganha, chapa gasta».
E porque isso não nos surpreende?
Sem comentários:
Enviar um comentário