1. Passam amanhã quarenta anos sobre uma luta bem sucedida, mas que só perdurou nas memórias de quem a viveu e no poema de uma canção de Fausto: em Ferrel, perto de Peniche, a população não precisou de câmaras de televisão, nem da colaboração de partidos políticos, para impedir a construção de uma central nuclear.
Com enxadas, forquilhas, foices e ancinhos, montadas em tratores, em camionetas, em motorizadas e até num burro, os setecentos manifestantes puseram fim ao desejo da Companhia Portuguesa de Electricidade (o antigo nome da EDP) em ali construir uma instalação destinada a produzir energia «barata e limpa». Que o não era assim tanto não se tardou a comprovar quando, primeiro em Three Mile Island e depois em Tchernobyl se concluiu da extrema perigosidade da sua operação. Anos depois, Fukushima só confirmou o que já todos tínhamos concluído!
Hoje vivemos na inquietação quanto ao que possa acontecer na central de Almaraz que, apesar de distanciada mais de 5oo Kms de Lisboa, poderá ter efeitos nocivos na saúde dos habitantes da capital. Bastará que o seu conhecido estado calamitoso der origem a mais uma catástrofe.
A quarenta anos de distância podemos, pois, agradecer aos lutadores de Ferrel o não termos seguido a moda de muitos países europeus onde instalações destas surgem-nos à vista muito regularmente enquanto nos deslocamos pelas suas autoestradas.
2. Com a rapidez possível o Governo lá vai normalizando tudo quanto Passos Coelho & Cª foram abandonando e constituíam boas práticas do aparelho de Estado. Agora é a vez do Ministério do Trabalho e da Segurança Social retomar a publicação dos dados sobre despedimentos coletivos, layoff, greves ou evolução da contratação coletiva.
Compreendemos bem, porque o governo anterior abandonou essa prática há três anos atrás: esses indicadores seriam bem reveladores da degradação progressiva a que o austeritarismo suscitava no mundo laboral e na sociedade em geral. Escondê-los fazia parte da campanha de propaganda, que recorrendo abundantemente à novilíngua, fazia crer em amanhãs cantantes em tons alaranjados.
3. Porque a CAP é um dos principais inimigos do Governo de António Costa, é natural que o ministro Capoulas Santos seja erigido em inimigo de estimação da direita, que dele pretenderá transmitir a imagem de incompetência. Por isso mesmo só podemos apreciar a inteligência do primeiro-ministro ao designar para o cargo um político muito competente e com uma sólida tarimba política, capaz de derrotar esses ínvios objetivos.
Quando lançam contra ele campanhas como as que estiveram subjacentes às muitas declarações dos suinicultores na passada sexta-feira, eles não sabem com quem se metem. Manipulados indecentemente pelos latifundiários, os agricultores mais pobres só terão a perder quando transformam em adversário quem lá está para os apoiar. Até porque muito de errado ficou da herança de Assunção Cristas: não só dinheiros gastos indevidamente, porque respeitantes ao Orçamento de 2016 (muito justamente Capoulas Santos interroga-se porque há Presidentes da Câmara presos por tal motivo e não acontece o mesmo com a ex-ministra), mas também a existência de muitos jovens agricultores, que foram aliciados para a atividade por consultoras sob a promessa de vierem a receber fundos europeus para os seus projetos e não conseguem, de forma alguma, cumprir os seus compromissos.
Será só mais uma bomba ao retardador, que a incompetência da nova líder do CDS deixou preparada para explodir nas mãos de quem lhe sucedesse.
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