1. Está comprovado que o Jornal de Angola morre de amores por Paulo Portas, o que fica bem com a moda de Primavera-Verão, que ele promete envergar na condição de ex-líder do CDS.
Houve um tempo em que merecer tal distinção da parte do órgão oficial do regime de Luanda era algo inconcebível em quem via Savimbi como o paradigma do democrata e de defensor dos valores ocidentais.
A viragem progressiva do poder angolano até converter-se na cleptocracia da família de José Eduardo dos Santos, para quem passou a fazer todo o sentido a lógica do Rei Sol - “o Estado sou eu!” - reorientou o juízo da direita portuguesa a respeito de um dos seus anteriores ódios de estimação. Há dois anos Rui Machete curvou-se até onde a artrite o deixava e, agora, Portas sugere à Justiça o rápido arquivamento dos casos envolvendo a elite do MPLA.
De que andará à procura o especialista em irrevogabilidades subitamente revogáveis? Um emprego na Sonangol? O patrocínio para alguma Fundação onde julgue possível esperar descansadamente até concorrer a umas eleições presidenciais?
O que se sabe é existirem hoje elogios, que correspondem a vitupérios. E esse é o caso desta insólita hagiografia de Portas.
2. Continuando com Angola no horizonte, parece iminente o acordo entre La Caixa e Isabel dos Santos a propósito do BPI. A difícil negociação terá contado com o envolvimento de António Costa, que queria evitar um problema acrescido para a banca nacional e se revelou fundamental para o bom porto a que se vai chegar.
Pouco a pouco os mais graves problemas herdados do governo da direita vão sendo resolvidos sem dramas, nem golpes publicitários.
Após quatro anos de desgovernação em que a pressa só acontecia para retirar direitos e rendimentos aos maus pobres, porque nos casos mais complexos se procrastinava ad eternum, é um consolo verificar como tudo mudou. Hoje contamos com um governo que não esconde a cabeça na areia para não ver os problemas, porque sabe bem demais que só enfrentando-os com seriedade, talento e determinação os poderá ver superados.
3. Quem está agora a reaprender o significado de se terem deixado embalar pelas falácias da direita são os argentinos. Em poucas semanas o presidente Mauricio Macri desfez o que levou anos a conquistar com os governos dos Kirchner. Não só está disposto a endividar o país a uma dimensão insuportável ao aceitar as chantagens dos fundos abutres, como deu autênticas machadadas na liberdade de expressão com a expulsão de jornalistas desafetos ao seu partido, ou na independência da Justiça com a designação de amigos pessoais para o Supremo Tribunal. Como cereja em cima do bolo também mandou a polícia reprimir com inaudita violência algumas pequenas manifestações contra as suas políticas.
Perante o exemplo do vizinho, e ao contrário do que Martim Silva escreve no «Expresso», a decisão de Lula em integrar o governo de Dilma faz todo o sentido: numa altura em que as classes que usufruem de maiores rendimentos assumem comportamentos insurrecionais é altura de haver um toque a reunir de toda a esquerda brasileira de forma a impedir a direita de levar por diante a estratégia da conquista ilegítima do poder.
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