António Costa Silva é um professor do Instituto Superior Técnico conhecido pela ligação à indústria do petróleo, designadamente à Partex. Mas o seu texto de opinião inserido na edição semanal do «Expresso» («Petróleo e Economia Mundial») é assaz interessante para podermos compreender a crise económica vivida na Europa e nos países emergentes. Enquanto a primeira vê fracassar os sucessivos esforços de Mário Draghi para fazê-la sair da atual anemia, os segundos, demasiado dependentes do petróleo e das matérias-primas, são panelas de pressão prestes a rebentar, como sucede no Brasil ou na Venezuela.
Para o autor do artigo em causa não existe dúvida alguma sobre o evento capital que desencadeou todos os outros efeitos em cadeia hoje diagnosticáveis, desde a queda abrupta do preço do petróleo à volatilidade das taxas de câmbio, do arrefecimento da economia chinesa à situação dos países emergentes: o anúncio em 2014, da Reserva Federal dos EUA em como cessaria os estímulos à economia designados como “quantitative easing”.
Essa notícia despoletou um conjunto ininterrupto de fluxos financeiros dos países emergentes para os EUA e para os países mais desenvolvidos. Em cada trimestre ascendeu a 500 mil milhões de dólares numa autêntica sangria dos cofres de quem mais necessitava de dinheiro para investir.
Ao mesmo tempo, e contrariando o que sucedia anteriormente, quando a apreciação do dólar era acompanhada do aumento do preço do barril do petróleo, verificou-se exatamente o contrário por, entretanto, os Estados Unidos terem ultrapassado a Rússia como maior produtor mundial de gás e igualado a Arábia Saudita na de petróleo graças à sua prospeção nas camadas de xisto. O resultado é um excesso de petróleo no mercado, que pressiona seriamente as políticas de Putin ou do Irão dos aiatolas, conseguindo assim a Casa Branca, sem qualquer armamento convencional, encostar às cordas alguns dos seus inimigos de estimação.
Hoje os Estados Unidos estão a reindustrializar-se rapidamente e a terem um PIB em robusto crescimento. Pelo contrário os países emergentes em dificuldades vendem os recursos aplicados em fundos soberanos e em ativos, que resulta na turbulência dos mercados financeiros.
António Costa Silva conclui assim o seu artigo: “Há hoje uma espécie de coligação negativa que enfraquece o crescimento económico e o torna insustentável em várias zonas do mundo. E com uma China que parece mais frágil algo tem de acontecer ou ser reinventado para o quadro económico global não se tornar recessivo”.
É claro que seria pedir demasiado ao professor do Técnico, que fosse mais explicito no que acabou por diagnosticar, mas, numa altura em que existe uma total interdependência na economia mundial com a globalização dos mercados e dos fluxos monetários, o que verdadeiramente está em causa é a incapacidade do capitalismo em resolver satisfatoriamente a acelerada disfuncionalidade de que dá mostras para corresponder aos anseios da Humanidade em ter uma qualidade de vida digna num planeta sustentável.
Ainda não é a Revolução para um outro tipo de modus vivendi, mas ele já se pressente nos sinais emitidos de todas as direções.
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