Este é o último fim-de-semana em que temos Cavaco Silva como Presidente. Razão para o «Público» dedicar dez páginas da sua edição dominical à procura de respostas para o facto de acabar com reputação tão baixa o político, que mais eleições ganhou na História da nossa Democracia.
Convenhamos que, apesar de ouvir gente muito respeitável, como por exemplo Pedro Adão e Silva, o dossier nada adianta ao que sabemos e até esquece um argumento de peso para explicar o «sucesso» de Cavaco: mais do que mesquinho e tacanho, ele foi de um oportunismo inigualável quando deixou os socialistas tratarem da adesão à então CEE e compreendeu o fluxo ininterrupto de subsídios, que viriam dela. Motivo para a tal viagem de carro até à Figueira da Foz para aí ser ungido como líder laranja.
Depois, e graças já então a uma comunicação social, que tratava de inventar os mais despudorados boatos sobre a probidade de Mário Soares e de outros políticos de esquerda, conseguiu firmar-se no poder, beneficiando ainda das divisões internas dos socialistas que contribuíram para o sucesso efémero do PRD.
A gestão desses fartos dinheiros europeus alimentou toda a corte cavaquista, que aspirou a tornar-se dona disto tudo, apesar de oriunda do lado mais arrivista e cripto-fascista da pequena burguesia salazarenta.
Se Cavaco sai da função presidencial com a popularidade pelas ruas da amargura é porque coincidiu neste segundo mandato com outro notável filho da mesma subclasse social com a mesma ambição e falta de escrúpulos.
É que, para quem não nasce em “berço de ouro”, só existem duas opções: ou identifica-se com os interesses de quem partilhou a sua origem posicionando-se à esquerda para exigir maior justiça social e mais equitativa distribuição de rendimentos; ou procura avidamente todo o tipo de trampolins que lhe permitam acotovelar os seus iguais e alcançar posições para as quais dispensa a demonstração de qualquer mérito ou talento.
Tal como Cavaco, Passos Coelho corresponde a esta segunda categoria de indivíduos. E se o primeiro até teve um percurso académico de alguma valia - mesmo que a fama dos seus trabalhos científicos não tenha equivalido a sua substância -, o atual líder da Oposição sempre se mostrou estudante medíocre e gestor de empresas mais do que duvidosas.
Para a direita, que se reivindicava de um príncipe - Sá Carneiro - da estirpe do aconselhado por Maquiavel, o ter-se visto representada por Cavaco e por Passos Coelho só podia resultar na tempestade perfeita.
Imitando os republicanos americanos a quem Trump deixou atordoados com problemas de identidade e de descredibilização, a direita portuguesa levará muito tempo a encontrar resposta para voltar a ser aquilo que agora não é! Mesmo que se proclame regressada à social-democracia ou à democracia cristã!
P.S. É certo que todas as críticas ao comportamento de Maria Luís Albuquerque se justificam. No entanto, ouvi-las da voz de Manuela Ferreira leite, que foi para o Banco Santander depois de ser ministra das Finanças, ou de Marques Mendes cujo escritório de advogados é especialista em fazer lobby por grandes grupos económicos e financeiros, tem o seu quê de obsceno.
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