Há uns anos se me dissessem que, entre a noite dos Óscares e a da Super Terça-feira nas primárias norte-americanas, preferiria esta última, não acreditaria. Porque na época era bem mais cinéfilo do que o sou hoje e as eleições na Terra do Tio Sam só captariam a atenção no desiderato de novembro, quando os escolhidos pelos dois partidos teriam o confronto final.
Este ano é diferente, porque há Bernie Sanders. E se apostava que ele estaria por esta altura a atirar a toalha ao chão por não conseguir medir-se em financiamento para a campanha com a de Hillary, as projeções desmentem essa inevitabilidade com a vitória previsível no Vermont (o seu Estado) e as mais inesperadas no Minnesota, no Colorado e no Oklahoma. Tal como sucedera nos Estados onde as eleições decorreram nas semanas anteriores foram os jovens e as mulheres a apoiarem-no numa campanha em que ele não tem pejo em se revelar socialista e com Wall Street e os seus gananciosos negócios na mira. Perante a constatação de ter consigo quem representa o futuro da América, Sanders será o precursor de uma transformação previsível no seu cenário político nas próximas décadas.
Não admira que se conheçam agora sondagens, que o dão como fácil vencedor se encontrar Donald Trump no confronto final.
Vivemos, pois, uma grande mudança ideológica nestes dias em que nos julgávamos condenados a viver na vil tristeza das governações da direita. Quando já se fala de pós-capitalismo e nenhum guru encontra fórmulas mágicas para reavivar o que já não tem conserto, Sanders (tal como Corbyn em Inglaterra) vem recolocar o socialismo na agenda por ser a única ideologia que, assegurando uma redistribuição da riqueza, devolverá às economias os meios de investimento para garantir os tão urgentes empregos…
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