Arriscando os impropérios de uns quantos que me leem, costumo associar as posições mais trogloditas emitidas no espaço público com a expressão “discurso do taxista”. Porque, por muito que haja gente educada e progressista a guiar esse meio de transporte pelas ruas das grandes cidades, uma boa maioria parece formatada pelas “informações” colhidas no «Correio da Manhã». Embora há muito evite essa experiência, muitos dos discursos mais estupidamente xenófobos, misóginos e antipolíticos que ouvi, aconteceram nessas breves viagens entre um e outro ponto da capital.
Vem isto a propósito de, por uma vez, ver-me na contingência de fazer um elogio aos taxistas, ou pelo menos àquele que transportou os três terroristas, que se fizeram conduzir ao aeroporto de Bruxelas para aí causarem o morticínio visto e revisto ao longo da semana em todas as televisões.
Ora, segundo tudo o indica, muitas das ações entretanto decorridas, pelas quais se pode esperar a eliminação de células terroristas nas capitais belga e francesa, decorreram da informação prestada por esse profissional do volante quanto ao sítio onde recolhera tais passageiros.
Fica, pois, aqui assumido um momentâneo ato de contrição.
Mas a semana, apesar de terrível na contabilização de vítimas dessa assombração contemporânea dos nossos dias, também conta com sucessivas boas notícias, como o são a eliminação de Omar al-Shishani, de Haji Iman e de Mustafa al-Qaduli, respetivamente responsáveis pelas áreas da defesa, das finanças e da coordenação do Daesh.
Sem ilusões, sabemos que já outros os terão substituído, mas John Kerry é capaz de ter razão, quando teorizou sobre os atentados desta semana: “A razão por que estão a recorrer a ações fora do Médio Oriente é a de que a sua fantasia de um ‘califado’ está a colapsar-se diante dos seus olhos”.
E, igualmente, confiante, Matteo Renzi garantiu que “da mesma forma que a Itália não se rendeu à máfia, a Europa vai derrotar os jihadistas”.
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