Se eu acreditasse na vida além da morte, saberia que Khaled al-Assad teria agora recuperado a serenidade e confiaria na reconstrução da cidade de cujos tesouros foi o guardião-mor até 18 de agosto transato, quando o Daesh o decapitou.
Na altura soube-se que a condenação à morte tivera a ver com a sua recusa em revelar o esconderijo de milhares de peças do seu Departamento de Antiguidades de Palmira que os criminosos pretendiam vender rapidamente no mercado clandestino internacional.
Octogenário, o protetor dos tesouros de Palmira já contava com cinquenta anos de dedicação ao seu projeto de vida.
Ele só não foi capaz de evitar que os terroristas destruíssem o Arco do Triunfo, os templos de Bêl e de Baalshamin e as torres funerárias, mas Maamoun Abdelkarim, atual diretor das Antiguidades sírias já garantiu a sua reconstrução com a supervisão da UNESCO. E a esperança de, a médio prazo, tão só a guerra concluída, voltar a haver um pujante turismo cultural capaz de valorizar a antiga cidade romana, mas também assegurar ao governo sírio as receitas necessárias para ajudar na recuperação de um país destruído pela intervenção absurda de franceses e alemães quanto ao tipo de regime aí estabelecido. Tivessem Merkel, Sarkozy e Hollande tido maior discernimento e nunca teriam apoiado moralmente nem com fornecimento de armas os que, em nome de uma falaciosa Primavera Árabe, decidiram contestar Bashar al Assad.
A vitória na batalha de Palmira confirma que Putin tinha razão em retirar uma parte das suas tropas da região: o exército de Assad já está a revelar a eficácia suficiente para, com os apoios de libaneses, iranianos e dos russos ainda ali deixados, derrotar quem se lhe opõe. Restará ao presidente sírio encontrar uma forma inteligente de dialogar com os curdos, atribuindo-lhes suficiente autonomia para que eles se sintam confortáveis nessa fase intermédia até conseguirem, com os seus irmãos iraquianos, iranianos, turcos e jordanos alcançar a merecida independência.
Ao acontecimentos apontam para a possibilidade de se estar a verificar uma espécie de divisão de influencias políticas na região, com os russos a garantirem a sobrevivência do seu protegido e os norte-americanos a controlarem o Iraque, como o indicia a anunciada recuperação de Mossul.
Quanto ao Daesh, e apesar dos impressionantes atentados de Bruxelas nesta semana, o seu fim não estará longe. É claro que, como sucedeu com a Al Qaeda, dele persistirá uma mini e incómoda organização, capaz de se revelar letal nalguns atentados difíceis de prever onde ocorrerão. Mas o fortalecimento das políticas securitárias europeias e a redução drástica dos direitos de todos à sua privacidade, prevenirão em grande medida os males maiores. E, no entanto, quer a organização de Bin Laden, quer o Daesh terão conseguido uma importante vitória ideológica: que a grande maioria dos ocidentais abdicasse de muitos dos seus valores de liberdade em favor de verem diminuídas as probabilidades de serem explodidos por um qualquer suicida.
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