Na noite de São Silvestre centenas de mulheres formalizaram queixas à polícia de Colónia devido ao assédio, senão mesmo agressões sexuais, de que se sentiram vítimas por parte de homens maioritariamente magrebinos.
Trataram-se de violências semelhantes às verificadas na Praça Tahir no Cairo em 2011, onde se viu uma horda de homens excitados atacarem mulheres egípcias e jornalistas estrangeiras, desnudando-as e violando-as.
Do Cairo a Colónia o que revelam essas imagens? São pontuais ou revelam um mal estar mais profundo, revelador de uma atitude doentia para com os corpos femininos e para com o desejo por eles suscitado?
Kamel Daoud, escritor argelino defende esta última tese e tem sido objeto de uma enorme polémica, com alguns intelectuais defensores do politicamente correto a fazerem-no símbolo de uma certa forma de islamofobia.
Nos seus escritos Daoud considera que, na sociedade muçulmana, a mulher é negada, recusada, assassinada, velada, enclausurada ou possuída. “O sexo é a maior miséria de quantas subsistem no mundo de Alá”.
Miséria sexual, frustração, peso do Islão numa sociedade machista - eis o que Daoud enunciou como características das sociedades muçulmanas e que tanta polémica suscitaram nos que o acusaram de clichés orientalistas.
Os filósofos Pascal Bruckner e Michel Onfray apoiaram as teses do escritor, tal como o primeiro-ministro francês, que consideraram haver um sério problema do mundo árabe com as mulheres.
Ora confirmam-no as conferências em curso na Arábia Saudita organizadas na semana passada e dedicadas ao tema inacreditável de saber se a mulher é ou não um ser humano! E, nesse mesmo país, há duas semanas, uma jornalista foi condenada a dois anos de prisão por ser tida como impúdica.
As próprias Primaveras árabes revelarem esse mal estar profundo na relação das sociedades árabes com o mundo feminino, já que na Líbia, tão só derrubado Kadhafi, uma das primeiras propostas a ser consideradas foi o do regresso da poligamia. Algo também ensaiado na Tunísia, apesar dos avanços entretanto conquistados pelas mulheres durante as décadas anteriores.
Para a escritora Fawzia Zouari importa levar por diante duas revoluções nas terras do Islão, não só a de carácter político, mas sobretudo a de cunho religioso de forma a revogar a absurdidade da maioria dos seus dogmas. E contrariar uma certa classe intelectual ocidental, que se presta a fazer de idiotas úteis ao obscurantismo islâmico ao transformarem em seus inimigos de estimação os que se esforçam por o denunciar.
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