Começam esta semana as audições da Comissão de Inquérito Parlamentar ao Banif, por onde irão passar os que direta ou indiretamente tiveram responsabilidades na sua insolvência ou resolução.
Em apenas oito anos já são quatro os bancos a suscitarem as inquirições dos deputados, o que diz muito sobre o estado calamitoso a que chegou a banca portuguesa. Se as privatizações prometiam trazer maior eficiência e competitividade, que muito beneficiariam os portugueses, o resultado tem sido precisamente o contrário: em vez de servirem de apoio à economia e aos cidadãos, os bancos têm sido sorvedouros da riqueza nacional e dos rendimentos dos contribuintes.
No BCP esteve em causa uma guerra fratricida entre os principais acionistas, que fizeram da comunicação social o palco da sua disputa. No BPN ficou desmascarada uma das faces mais sinistras do cavaquismo, com muitos dos amigos do ex-presidente a protagonizarem uma megafraude, que nenhum Rosário Teixeira mostrou grande empenhamento em penalizar, demonstrando bem como a Justiça se tornou particularmente vesga quando olha para os negócios ambíguos. No BES ficou demonstrada a falácia da superioridade da gestão privada, que não teve unhas para tocar uma viola desafinada pela crise financeira internacional, e quis depois salvar-se recorrendo a contos do vigário com a cumplicidade de Cavaco Silva, Passos Coelho e Carlos Costa.
Chegamos, assim, ao Banif, que custou mais de 3000 milhões de euros ao Estado e um ganho entre 500 e 1000 milhões para o Banco Santander.
O casos serviu para compreender que, apesar de apenas cobrir 4% do mercado, o banco fundado por Horácio Roque entrou na lógica de ser demasiado grande para deixar falir sem qualquer resolução que o salvasse. Por estas e por outras é que um deputado belga demonstrou que a Europa perdeu 10% de toda a sua riqueza nestes últimos oito anos devido à sua intervenção para salvar bancos ameaçados de bancarrota.
Hoje parece que António Costa, mesmo a contragosto, terá sido obrigado pelas instituições europeias a entregar o Banco ao Santander, mas a Comissão de Inquérito irá apurar algumas questões pertinentes:
- fez algum sentido salvar o banco em 2012, quando ele já dava mostras de constituir um problema insolúvel? A tal ter acontecido, qual o preço que custaria então aos contribuintes, sobretudo sabendo-se que havia uma verba disponibilizada pela troika para sanear o sistema financeiro?
- qual o custo efetivo da negligência de Passos Coelho e de Maria Luís Albuquerque ao esperarem três anos por uma solução impossível?
- e quem foi o responsável pela fuga de informações, que precipitou os acontecimentos nos últimos dias de dezembro? Terá sido o Banco de Portugal para forçar a decisão? Ou terá sido o Santander que, como acontecia com os culpados nos romances de Agatha Christie, revelou-se como o grande ganhador de tudo quanto aconteceu?
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