A perseguição judicial a José Sócrates já esgotou a capacidade de indignação dos que há muito interpretam a Operação Marquês como um plano destinado inicialmente a perenizar Passos Coelho no poder, não sendo mera coincidência ter acontecido quando o PS de António Costa estava a liderar as sondagens e com momentos cirurgicamente escolhidos para ulteriormente desviar as atenções coletivas de fases determinantes da pré-campanha eleitoral.
Os que na noite de 4 de outubro pretenderam internamente forçar a demissão de António Costa e fizeram coro com os que afiançavam ter sido o PàF a vencer as eleições, não se limitaram a ser idiotas úteis ao serviço dos que pretendiam manter as coisas tal qual estavam no país: tiveram um comportamento ignóbil de que se deveriam tomar as devidas ilações no próximo Congresso socialista.
Quando a História destes anos se fizer com o devido distanciamento será muito provável que se encontrem as provas de uma conjugação de esforços de diversos setores da vida nacional (na Justiça, na Comunicação Social, nas Associações Patronais), que julgaram ser bem sucedidas ao início da noite desse referido 4 de outubro, mas que começaram a ser assombrados pelos seus piores medos, quando a noite foi avançando e as intervenções de Catarina Martins e de Jerónimo de Sousa deram substância a uma alternativa que coincidia com a formulada por António Costa nas semanas anteriores.
Que essa gente tinha razão para ter medo está bem demonstrado em tudo quanto desde então se passou, traduzível numa única frase: afinal outra alternativa era possível!
Mas se toda essa manobra política e judicial fracassou no objetivo principal, resta uma vítima, que continua sem ver esclarecida a sinistra situação em que se viu: hoje está bem de ver que nem Rosário Teixeira tinha matéria bastante para sequer acusar o antigo primeiro-ministro do que quer que fosse e muito menos Carlos Alexandre possuía razões outras que não a intenção política, de o mandar prender.
Os meses vão passando, os adiamentos sucedem-se ultrapassando todos os prazos previstos na lei, e não há qualquer acusação. A ideia que fica é a do Procurador adiar o mais possível o seu próprio confronto com a conclusão de tudo ter sido uma montanha que nem sequer um rato foi capaz de parir.
Rosário Teixeira e Carlos Alexandre sabem que o reconhecimento de nenhuma das suas suspeitas ter fundamento equivalerá ao fim das respetivas carreiras. Por isso mesmo não me admirarei se continuarem a prorrogar esse desenlace avançando com uma acusação espúria, relativamente fácil de desmontar em tribunal, mas que se arrastará mais uns anos de forma a salvarem a pele e colarem a José Sócrates um conjunto de suspeições de que ele não consiga libertar-se.
Sendo inaceitável que se façam jogos políticos com a vida das pessoas, este caso deverá confrontar o Conselho Supremo da Magistratura com as suas responsabilidades, porque arrisca-se a que se conclua e se legisle no sentido de não permitir que o Poder Judicial - que nunca passa pelo veredicto do voto popular - possa pôr e dispor sobre quem exerce, ou possa vir a exercer, os Poderes Legislativos e Executivos.
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