Admito que, em vinte sete anos de militância socialista, só dois secretários-gerais não tiveram o meu voto quando se candidataram pela primeira vez ao cargo: José Sócrates e António José Seguro.
O anterior primeiro-ministro conseguiu alterar positivamente a minha apreciação a seu respeito e, mesmo reconhecendo-lhe erros significativos (em parte explicados pelas circunstâncias inesperadas e específicas em que exerceu os seus mandatos!), tornei-me num apoiante quase incondicional dos seus propósitos políticos. Porque tinham objetivos claros: manter a economia a funcionar, melhorar as competências dos portugueses através da educação, valorizar a investigação científica, associar o país aos mais desenvolvidos, quer em infraestruturas, quer em modernização de serviços.
Nas eleições mais recentes para secretário-geral votei em Francisco Assis, porque nunca vi em António José Seguro as qualidades necessárias para o exercício do cargo. Porque me pareceu sobrarem-lhe competências de gestão de expectativas dos militantes sem lhes revelar conteúdos que as fundamentassem, faltando-lhe em compensação a visão quanto às estratégias mais eficazes para corresponder ao atual momento histórico de transformação do capitalismo numa sua nova versão mais selvagem e iníqua.
A exemplo do que sucedera com Sócrates fiquei à espera de reconhecer o meu engano. Infelizmente forçoso é reconhecer que foi a minha anterior opinião a prevalecer.
Sobretudo, quando, estarrecido, ouvi a proposta para a redução do número de deputados no parlamento.
Eu, que nunca exerci nem conto vir a exercer qualquer cargo político remunerado, sinto um nervoso miudinho quando me chegam mails ou ouço discursos tipo-taxista em que se verberam os políticos no seu todo, achando-os a todos imprestáveis, corruptos e exageradamente remunerados.
Faz parte do meu conceito de cidadania republicana, que as funções políticas deverão ser eticamente enfatizadas como as mais nobres que alguém deva exercer, o que significa escolhermos os melhores para cumprirem competentemente as suas funções e sendo por isso adequadamente (entenda-se bem) remunerados.
Ora, ao fazer a sua indescritível proposta, António José Seguro incorreu na fácil demagogia e no manobrismo político da pior espécie: o da politiquice de nível mais rasteiro.
Porque, mesmo ganhando alguns dividendos na hipótese de semear mais alguns paus na enferrujada engrenagem governativa (o CDS nunca aceitará a redução de deputados, que o poderão devolver à condição de partido do táxi!), Seguro mostra não ter ideias concretas para mostrar aos portugueses em que pode ser diferente de Passos Coelho.
Terá sido porque, no rescaldo do excelente discurso de António Costa nas cerimónias do 5 de Outubro, não encontrou melhor forma de voltar a ser falado nos telejornais senão através de tal demagogia, facilmente aceite pelos estratos mais despolitizados da população?
Como militante tive vergonha de ouvir tais palavras de um líder do meu partido, porque me confirmou o cabo dos trabalhos em que ele ficará se o governo lhe cair nos braços e não souber fazer nada de diferente em relação ao que Gaspar e Cª vão impondo.
Aí sim seria dramático que novas manifestações do 15 de setembro tivessem como alvo o PS, porque qualquer Samaras local - mesmo recentemente despedido do poder! - aí voltaria legitimado pela efémera ilusão de uma alternativa.
Ora, o Partido Socialista tem de ser A ALTERNATIVA a este governo, mas tem de perceber quanto tudo mudou no mundo desde Setembro de 2008. O novo paradigma capitalista não permite que o Partido Socialista continue a ver o mundo pelas lentes anteriores: os alegados mercados deixaram de ser parceiros mais ou menos acomodáveis para se transformarem em inimigos da generalidade dos cidadãos, não só dos que eram tidos como os mais desfavorecidos e a quem o Estado-Providência poupava dos rigores da miséria extrema, mas também das classes médias aceleradamente condenadas a juntarem-se aos demais pobres.
Se o Partido Socialista se esquecer da sua matriz fundadora - a que aposta na maior justiça e igualdade para todos os cidadãos - deixará definitivamente de ter qualquer papel histórico. E Pasokizar-se-á em proveito de um eventual Syriza nacional.
É por isso que, quase tão urgente mente se deva colocar a questão de quem deve ser o secretário-geral do PS, quanto depressa se deve expulsar Passos, Postas & Cª do Governo.
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