É uma característica singular, que se associa à obra de E.L. Kirchner: quadros pintados dos dois lados da tela em períodos distintos da sua carreira de pintor.
Num total de cerca de mil quadros, 130 apresentam essa originalidade. Que levam alguns a interrogar-se se ele teria dupla personalidade. Ao que ele poderia corroborar com expressão dele em tempos escutada, quando já vivia em Davos, na Suiça: “É uma sorte os quadros terem todos duas faces!”
Mas o essencial da obra do pintor alemão, nascido num ambiente burguês em 1880, tem a ver com a diversidade e os contrastes dos temas, ora associáveis a um bucolismo rural, ora à vida boémia das grandes cidades.
Na primeira fase da obra - a que começa com o novo século e se prolonga até à Primeira Guerra Mundial, Kirchner vive intensamente a boémia berlinense com um grupo de companheiros de geração (que crismavam de «A Ponte» o seu movimento artísticos) e com sucessivas amantes, que servem de modelos aos seus quadros.
No entanto a vida militar quebra algo de fundamental em si: deprime, torna-se toxicodependente e solitário.
Nos Alpes suíços encontra refúgio à medida das suas necessidades, pintando paisagens e aprofundando conceitos artísticos, que nunca chegam a tomar a forma de uma estética bem definida. A sua obra vai-se, porém, estilizando, numa permanente intenção de verter em forma artística a exacerbada natureza que presencia à sua volta.
Mas chega a década de 30, que faz emergir o fenómeno nazi para cujos líderes os quadros de Kirchner representam o paradigma da «arte degenerada». O que lhe vale nova e profunda depressão, seguido do suicídio em 1938.
Quanto ao seu legado de obras dos dois lados da tela , há quem o explique enquanto recurso de força maior, quando Kirchner ficava isolado pela neve na sua casa alpina e já não possuía mais telas virgens para cobrir de pintura. Seria essa a razão de ser dessa curiosa singularidade...
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