O jornalista e escritor italiano Eugenio Scalfari publicou recentemente em França um ensaio literário e filosófico sobre a modernidade, que ele situa como surgida com a obra de Montaigne.
Eis como ele explica a sua tese nas páginas do “Nouvel Observateur”:
Na escola ensinam-nos que a modernidade começou com a descoberta da América. E é verdade que essa descoberta foi um acontecimento fantástico, enorme, de consequências inimagináveis, mas que não incidia no pensamento, já que dizia respeito ao dinheiro, à geografia, à geopolítica … e às epidemias.
O que designamos por «pensamento moderno» começa com Montaigne e os seus “Ensaios”.
Ninguém até então tinha escrito ensaios. A própria palavra era nova. Não é um tratado de filosofia. São reflexões diferentes interligadas pelo fio do pensamento. E qual é então o pensamento de Montaigne?
É o relativismo. Ou seja, que não existe um absoluto, porque cada qual dá a sua perspetiva da verdade e até mesmo da divindade.
Ele diz: eu sou aquilo que o meu livro dirá que sou! E tudo muda, cada minuto muda. Nós mudamos todos os minutos. O passado é um depósito. O futuro acontece-nos. E o presente é um instante fugitivo. O que vos estou a dizer agora, já passou.
Depois de Montaigne surgiu Goethe, que assegura a passagem entre os clássicos e os românticos ao dizer que a felicidade consiste em fixar o instante presente.
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