quinta-feira, 18 de outubro de 2012

POLÍTICA: Crónica de uma morte anunciada!


Foi há pouco mais de um mês, mas parece já ter sido há muito mais: após a manifestação determinante do 15 de setembro a vertigem degenerescente do governo de Passos Coelho tem sido tão prenhe de vicissitudes, que parecemos metidos num daqueles dramalhões latino-americanos em que nem o pai morre nem a gente almoça.
Por essa altura o professor do ISCTE Pedro Adão e Silva publicou um texto muito interessante no «Expresso» em que já antecipava o estertor a que vamos assistindo desde então e, sobretudo, levantava a questão da dessacralização do poder em que Passos Coelho apostara enquanto marketing político e que, então, se passara a virar contra ele. Nesse artigo recordava-se que a banalização do cargo de primeiro-ministro  passara pelas férias numa praia popular ou por ter uma página no facebook em que se apresentava como Pedro, o pai e amigo.
Numa altura em que a situação económica das famílias portuguesas se agudizava, o primeiro-ministro não hesitou em encenar umas idas à praia, devidamente televisionadas, no meio dos portugue­ses comuns; no dia em que anunciou as medidas mais brutais que conhecemos nas últimas décadas, achou por bem ir distender cantarolando temas populares.
Para além da violência das sucessivas medidas, que tem imposto aos portugueses de braço dado com a troika, Passos Coelho paga hoje os custos de, igualmente, não se ter dado ao respeito e querer assentar a sua legitimidade numa relação "tu cá, tu lá" com os portugueses, apresentando-se como o homem banal que nunca pode ser enquanto é primeiro-ministro.
A morte anunciada do governo ficou inscrita desde então e os episódios sucessivos com as múltiplas versões do orçamento agora entregue na Assembleia só dá razão ao que então concluía Pedro Adão e Silva: É-nos dito, com razão, que a democracia radica numa legitimidade formal e não pode cair na rua. O drama é precisamente esse: o primeiro-ministro foi à procura da rua e (…) esta regressou a galope. Agora, já nada há a fazer. É apenas uma questão de tempo. No fundo, "a rua" sabe que este Governo acabou, só não sabe quando é que vai ser removido.

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