Em tempos que já lá vão - ou que pelo menos assim se julgava! - o “venerável” almirante distraía o país com a originalidade dos seus tolos discursos.
Passos Coelho demonstrou hoje quão próximo se coloca da inspiração de tão singular personalidade. As palavras por si proferidas nas Jornadas Parlamentares dos partidos da coligação ilustram a indigência mental que o caracteriza, a incapacidade para compreender como consegue dizer uma coisa e exatamente o seu contrário:
Quem tem um carro em segunda mão para vender, com três ou quatro anos de uso, tem obrigação de certificar o carro que vai vender para não enganar quem o vai comprar. Quem no mercado se encontra muitas vezes não pode enganar o parceiro. E se não queremos enganar aqueles que querem investir em Portugal nós temos que dizer quais são os problemas que temos, as dificuldades que ainda nos falta vencer, tudo feito com muita honestidade, não para prestar contas mas para mostrar que sabemos o terreno que pisamos. Mas, claro, ninguém espera, quando vende um carro com três ou quatro anos, que o carro esteja como novo. Se quando o vendemos começamos por explicar que tem três ou quatro anos e que vai precisar de fazer mais uma revisão e que tem aqui uma série de defeitos - que é normal que os carros com três ou quatro anos tenham - aqueles que nos vão comprar perguntam se a nossa vontade é mesmo vender.
É verdade que, às vezes, vale a pena olhar esta realidade pelo crivo da ironia inteligente, que nos faz rir e morde fortemente nos adversários políticos. Vem isto a propósito do post publicado por Augusto Santos Silva no facebook e em que comenta a desdita do ministro Relvas:
A intriga que domina o dia, lançada pelo Expresso - "Relvas teve equivalências a cadeiras que não existiam" - deixa-me furioso:
1. Arre, já não chegou o homem ter estado debaixo de água umas boas 8 semanas - e nós a suspirar de saudades. Mal põe a cabeça de fora - e nós exultantes - leva logo com um tiro de artilharia. Haja decoro!
2. E vêm-nos falar de problemas com míseras cadeiras - de um homem cujo percurso de vida daria em qualquer outro sítio do mundo direito a poltronas e sofás!
3. E queriam que ele tivesse equivalência a cadeiras que já existiam antes! Como queriam que existissem, se ele é um inovador, um homem à frente do seu tempo?
4. E, depois, é algum crime ter equivalência a cadeiras pós-existentes? Não ouviram o Ministério Público dizer que não? Tenham mas é juízo e paguem o IRS!
5. É isto o que verdadeiramente trama o país: estar cheio de invejosos.
Claro que só pude comentar estas palavras com um eu pecador me confesso!.
Mas neste tempo em que tantos motivos nos desalentam, o riso é uma arma viral. E é dentro desse mesmo espírito que, no «Arrastão», o Sérgio Lavos comenta a notícia de lucros significativos em toda a banca nacional. A crise, de facto, não é para todos!
É uma maravilha ver todos os bancos portugueses a apresentar lucros brutais este ano. Fico feliz por mim, e por todos os portugueses, porque o esforço foi nosso, foi coletivo, em prol do bem comum (dos banqueiros): não só foram vários milhares de milhão de euros diretamente para a recapitalização de algumas destas instituições, como estas estão a lucrar com a compra da dívida portuguesa (recebem dinheiro do BCE a 1% e emprestam ao Estado português, a 5, 6 e mais).
Ver dois grupos de portugueses satisfeitos - os acionistas que recebem dividendos e os administradores que recebem bónus - deve encher de orgulho o povo português. Nós, os que sofremos na pele as medidas de austeridade, estamos cá para isso mesmo. Não queremos ver os bancos pelas ruas da amargura. E se tudo falhar, se nada sobrar depois de transferidos todos os lucros e dividendos para off-shores, também estaremos cá para vos salvar, como aconteceu com o BPN. Não têm nada de agradecer, não fazemos mais do que a nossa obrigação.
Mas, abstraindo da sátira, é elucidativo que o Ministério Público esteja a investigar suspeitas de tráfico de influências na privatização da EDP que, recorde-se, era o tema da conversa telefónica entre Ricciardi e Passos Coelho e que idêntica análise estão a ser feitas aos processos da REN e da CIMPOR.
Por tudo quanto está a acontecer importa subscrever as palavras de Daniel Oliveira, mesmo não sendo provenientes de dentro do meu partido. Mas acredito que existam muitos socialistas a imitarem-me nesta posição:
Sabemos o que queremos de um governo de esquerda com forte apoio popular. Falta saber como conseguir que esse governo exista. Faz-se caminho numa alternativa viável à destruição económica de Portugal. Tem de se fazer o caminho para que ela seja politicamente maioritária. É esse o desafio que se tem de fazer a todos os partidos de esquerda. Sabendo que o memorando da Troika é o programa oposto ao do crescimento e do emprego.
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