quarta-feira, 3 de outubro de 2012

LIVRO: «Cool» de Don Winslow


Narco-Estado. Don Winslow, autor de uma trilogia de romances dedicados ao tráfico de droga no México e nos Estados Unidos - dos quais o mais recente, «Cool» acaba de ser lançado em França - não hesita em atribuir as culpas do fracasso da luta contra esse flagelo às políticas da Casa Branca desde Nixon. Agora, gastos biliões de dólares e perdidas milhares de vidas a guerra continua. Se em vez de criminalizar ou, pior ainda, militarizar, considerássemos o consumo de droga como um problema de saúde pública, poderíamos então encontrar o principio do fim do problema. (…)
Gastando tanto dinheiro e energia para proibir o consumo da droga, conseguimos aumentar o valor das diferentes drogas e dos territórios fronteiriços pelos quais elas transitam, tendo como resultado que os traficantes estão dispostos a matar pelo controlo das suas zonas geográficas.
Paralelamente, permitimos a sociopatas tornarem-se milionários., o que demonstra só termos feito crescer a dimensão do que pretendíamos evitar.(…)
Será o México um narco-Estado? Não! Os Estados Unidos é que o são, porque os milhões de dólares gastos anualmente no combate ao tráfico é que financia a atroz violência, que se abate sobre o México. O «problema mexicano» da droga é um conceito tristemente errado, que só serve para mascarar o verdadeiro problema, que é o «problema americano» da droga. São os toxicómanos americanos quem financiam este tráfico.
Os dois países encontram-se face a interesses contraditórios: o México e os EUA gastam biliões para combaterem criminosos e mantê-los nas prisões, mas essas somas são insignificantes face ao que eles ganham com o seu negócio.
Num certo sentido os cartéis e as forças policiais funcionam de uma forma simbiótica: cada um necessita do outro para justificar a sua própria existência.
Mas a história não fica por aí: nos anos 80, quando Reagan quis armar os movimentos anticomunistas na Nicarágua e na Colômbia não hesitou em aliar-se aos narcotraficantes. Foi nessa altura que se formaram os cartéis mexicanos, que se viriam a transformar numa superpotência mafiosa.
A esta distância pode-se atribuir ao tão admirado Reagan a fundação da AlQaeda e dos cartéis mexicanos!
Conclui Don Winslow; Em vez de despender biliões de dólares num aparato repressivo, teria sido preferível investi-los no tratamento e na prevenção do consumo de drogas ou na criação de empregos nas zonas urbanas, ocupando quem não encontra outra solução de sobrevivência, que não a delinquência.





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