sábado, 6 de outubro de 2012

FILME: «On Jack’s Road» de Hannes Rossacher e Simon Witter (2012)


Atravessar o território dos Estados Unidos da costa atlântica até à do Pacífico constitui aventura aliciante, que está vedada à maioria dos nela interessados. Daí que a alternativa propiciada por este documentário de Hannes Rossacher e  Simon Witter tenha muitos motivos de interesse embora exista um abismo geracional entre mim e os quatro jovens já nascidos na década de oitenta convidados para tal projeto e, por isso, com uma perspetiva muito diferente da do escritor Jack Kerouac de que se celebra este ano o centenário de nascimento. Temos então: Uma fotógrafa alemã. Uma compositora de música rock austríaca. Um realizador americano de origem alemã. Um francês que cria jogos.
Quatro jovens que não se conheciam anteriormente e que irão percorrer o trajeto seguido por Jack Kerouac no final dos anos 40 para compararem a América de hoje com a de há sessenta anos atrás, deles conhecida pela leitura de «On The Road».
O documentário de uma centena de minutos alterna a leitura em off ou pelos protagonistas de algumas passagens do livro com as vicissitudes da viagem. O objetivo principal será o de ressuscitar algo do espírito da beat generation, sobretudo essa busca interior entre os néons das grandes cidades e as solitárias extensões das paisagens desérticas.
Tão só saídos de Nova Iorque os nossos guias levam-nos a trezentos quilómetros de distância, até Cherry Valley, aonde ficava a quinta de Allen Ginsberg, um dos principais poetas do movimento.
O conservador do arquivo ali implantado é taxativo, quando duvida da genuinidade da ligação de Kerouac à beat generation. Por muito que «On The Road» se tenha constituído numa espécie de bíblia da geração de então!
É que existiam diversas tendências entre as mais progressistas e as mais conservadoras, que se reivindicavam dessa bandeira. Mas, Kerouac, a ser nela integrado, pertenceria inequivocamente às segundas: para ele, mais do que a filosofia Beat, interessava-o singrar como escritor de sucesso. O que viria a conseguir, mas com que nunca conseguiria lidar, acabando destruído nessa confusão interior.
Os quatro jovens encontram também um dos derradeiros sobreviventes de tal geração, um poeta chamado Charles Plynell que, já octogenário, ainda se passeia de bicicleta e é menos hostil à escrita de Kerouac.
Lowell, a vila aonde o escritor nasceu, e onde está sepultado desde 1969, é outra paragem obrigatória: fica no Massachusetts e permite aos viajantes fazerem o balanço da viagem até ali, sentados a piquenicar em torno da lápide do túmulo .
O grupo divide-se, então, seguindo eles para Chicago de camioneta Greyhound, e elas de carro alugado, que lhes permite parar num cemitério de aviões no caminho.
Antes de chegarem a San Francisco, ainda são muitos os motivos de interesse por eles descobertos: o Joshua Tree Hotel, com Phil a pernoitar no quarto nº 8, aquele em que o mítico Gram Parsons dos The Byrds morrera de overdose; os picos limítrofes de Monument Valley aonde podem tirar sublimes fotografias ao pôr-do-sol; ou a costa do Pacífico com paragem em Ragged Point.
Na cidade hippie, ainda visitam o Museu Beat e uma livraria especializada nessa temática antes de se despedirem com a promessa de se manterem em contacto.

Sem comentários:

Enviar um comentário