Um dos programas com algum sucesso da Sic Notícias é o “60 minutos” com reportagens sobre alguns dos temas da atualidade internacional vistos pelo jornalismo de referência norte-americano.
No entanto a apresentação do programa por parte do insuportável Crespo e a perspetiva demasiado filtrada pelos preconceitos imperialistas tornaram-no dispensável. Até porque existe alternativa bastante mais interessante dos mesmos objetivos através de «ARTE Reportage», programa semanal do canal cultural franco alemão.
Esta semana as três reportagens levaram-nos ao Iraque, ao Congo e à Dinamarca.
No antigo país de Saddam Hussein a reportagem de Feurat Alani, Yasser Joumaily e Régine Jusserand mostrou o drama de cento e cinquenta mil tradutores e colaboradores dos militares norte-americanos aí abandonados à sua sorte depois da retirada dos antigos invasores.
Num país outrora laico, que a invasão ordenada por George W. Bush islamizou, não são só as mulheres a pagarem os custos de um retrocesso civilizacional Esses milhares de iraquianos que, ilusoriamente, apostaram na possibilidade de transferência para os EUA tão só vissem aí regressados os seus antigos patrões, têm agora a cabeça a prémio e vivem na clandestinidade a remoerem os custos de opções, que se revelaram pouco prudentes.
Adeus Inferno é uma reportagem assinada por Marlène Rabaud et Arnaud Zajtman sobre Antoine, que vive exilado em Brazzaville e anseia por dar a conhecer as imagens, que filmou clandestinamente nas prisões do país vizinho donde se evadiu disfarçado de mulher depois de ali suportar as agruras durante dez anos.
O inferno do título começou em 2001, quando Laurent Kabila, presidente da República Democrática do Congo foi assassinado e ele se viu acusado de implicação na conspiração com mais 84 companheiros de processo judicial. Sem confessar se verdadeiramente teria alguma culpabilidade, ele reconhece a desilusão por um rumo político começado sob os melhores auspícios de esquerda capaz de derrubar o odioso regime de Mobutu e que redundara em práticas nepotistas e corruptas.
As imagens mostram a realidade do universo prisional congolês aonde se replica a realidade exterior no que ela se revela mais violenta.
Enquanto espera o momento de partir para a Suécia com os filhos, garantido que lhe foi ali o asilo político, Antoine ainda aproveita a estadia em Brazzaville para montar a peça de teatro criada durante o encarceramento e aonde reproduz a sua experiência recente. E já planeia prosseguir na Europa o combate pela emancipação dos povos oprimidos a começar pela dos companheiros de infortúnio ainda a vegetarem nas prisões de Kinshasa.
A concluir, a reportagem de Nathalie Georges, Eric Bergeron, Elise Grandjean e Pascal Bach, mostra a recuperação de estatuto social dos sem abrigo de Copenhaga, que têm vindo a ser reciclados em guias turísticos para darem a ver uma perspetiva singular da capital dinamarquesa
Quem os acompanha fica com uma noção dos sítios por eles escolhidos para se aquecerem ou recolherem apoios.
Iniciativa alternativa surgida em 2010 os Poverty Walks, ocupam atualmente seis guias e já contam com um total de seis mil participantes nas suas ações. Quase exclusivamente dinamarqueses pertencentes a associações, a municípios, a grupos de amigos e vizinhos, a partidos políticos ou outros cidadãos movidos pela curiosidade de testemunharem uma outra forma de olhar a cidade.
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