As Edições Seuil acabam de publicar um ensaio da filósofa Nicole Morgan em que ela aborda os modelos de pensamento da direita norte-americana e de quem lhe inspira as teses mais radicais.
Essa inspiradora é Ayn Rand, desaparecida há trinta anos, mas promovida a principal referência ideológica do Tea Party ao defender que os pobres são uns parasitas e o governo federal o mais lapidar exemplo do mal absoluto. Exatamente o que defende um dos seus mais conhecidos e autoproclamados discípulos, Paul Ryan, que concorre ao cargo de vice-presidente nas próximas eleições para a Casa Branca.
O entusiasmo do parceiro de Mitt Romney com as teses de Rand é tal que exige a leitura dos livros dela por todos os elementos da sua equipa de assessores.
A Ryan ou à alta finança de Wall Street de pouco importa o ateísmo puro e duro de tal inspiradora, porquanto dela retém o que, exclusivamente, lhes interessa: a defesa de um mercado sem regulamentações nem quem as aplique já que tass entidades são constituídas por funcionários públicos parasitas, que sugam o sangue dos empreendedores, os ”verdadeiros” e “legítimos” criadores da riqueza.
Os paladinos da globalização adoram Rand pela caução intelectual por ela dada às suas estratégias porque ela definia os empreendedores como os agentes do “bem comum” para que tenderia a humanidade.
Estamos num momento histórico em que a crise económica aumentou os ressentimentos dos ricos contra os pobres, acusados de matarem o crescimento.
Exerce-se sobre eles um ódio frio, que ainda não se traduz na defesa do extermínio violento, mas é organizado em torno da pseudociência representada pela economia ultraliberal.
Trata-se do aparente triunfo do extremismo e do simplismo ideológico. Um ódio frio, que levou, por exemplo, os lobistas da Câmara de Comércio a pedirem a revogação da lei, que permitia aos bombeiros do 11 de setembro obterem cuidados de saúde de longa duração de que são extremamente carentes pelas emanações tóxicas por eles enfrentadas.
E foi de Ayn Rand, que Michael Douglas retirou a frase «a ganância é a maior das virtudes», que exprime no «Wall Street» de Oliver Stone.
São essas teorias, que a coligação PSD/CDS está a querer aplicar em Portugal, mas com o insucesso já à vista. É que, ao contrário dos norte-americanos, os portugueses estão melhor defendidos do arsenal de estímulos de alienação usados por essa criminosa corrente do pensamento político. Mesmo apesar dos esforços de D. José Policarpo nenhuma igreja consegue conter a indignação mediante o apelo ao conformismo, nem os conceitos de socialismo foram demonizados o suficiente para que deles se dissociem os que recusam servir de carne para canhão dos representantes nacionais dessa ganância obscena.
É por isso que importa manifestar o repúdio por doutrinas, que transformam as maiorias em escravos de uma elite sem escrúpulos, cujos intentos deverão ser criminalizados enquanto verdadeiros atentados à Declaração Universal dos Direitos Humanos. Neste momento em Haia existem acusados de genocídios, que fizeram um número muito inferior de vítimas ao de muitos dos “respeitáveis” políticos e empresários, que surgem a toda a hora nos telejornais a darem como perfeitamente legítimas as suas aspirações a uma ainda maior exploração dos que já pouco têm.
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