Cartier-Bresson acabava de sair da Birla House aonde Gandhi lhe dera uma entrevista. De súbito ouve um tiro e volta atrás. E junta-se à multidão concentrada junto aos portões da residência.
Aparecem então o primeiro-ministro indiano Nehru e um oficial inglês para anunciarem a morte de Gandhi. Passa um táxi e pára. Ele salta então para o estribo e consegue tirar três fotografias. Esta é uma delas e revela-se notável, porque está bem enquadrada e com a devida composição até mesmo no ligeiro desfoque capaz de produzir um halo com os reflexos suscitados pela objetiva pouco aberta e com pouca luz.
São igualmente expressivos os rostos dos indianos, que parecem esperar por um cristo como se tivessem acabado de emergir de uma pintura italiana.
Esta fotografia é uma obra-prima porque revela o pintor por trás do fotógrafo. Lembra os grandes representantes do tenebrismo italiano do século XVII e tem como personagens centrais os dois mundos então presentes na Índia, quando um passava o testemunho ao outro. A coexistência de ambos nesse instante dramático realça o carácter trágico da imagem.
É ainda um testemunho histórico e jornalístico insubstituível, porque Cartier-Bresson era o único fotógrafo ali presente naquele momento.
Sem comentários:
Enviar um comentário