Anda meio mundo distraído com a comissão parlamentar do BES e, a pouco e pouco, o facto concreto de José Sócrates continuar aprisionado em Évora sem que saibamos os motivos para tal, nem as provas em que a acusação se fundamenta, está a passar para um segundo plano nos noticiários televisivos, o que nos deve indignar ativamente.
A fonte da procuradoria, que costuma alimentar o correio da manhã e a felícia cabrita parece ter esgotado a fonte. Depois de tantas “notícias”, que entre si se contradisseram, o que está a gerar-se é um consenso alargado sobre a iniquidade de uma legislação, que permite este tipo de utilização da figura jurídica da prisão preventiva.
Esperemos que toda esta história, muito mal contada, redunde numa revisão séria quanto à capacidade de um juiz em manter alguém preso durante meses, se não mesmo anos, sem qualquer culpa formada.
Depois do provável erro judiciário, que representou a condenação de Carlos Cruz, será incompreensível não avançar com uma reforma a sério na Justiça de forma a reequilibrar a relação de poderes no nosso sistema político. Porque, como se interrogava José Sócrates a partir da sua cela, quem é que nos pode guardar dos guardas, que nos podem enclausurar sem qualquer razão?
Num texto publicado esta semana na edição diária do «Expresso» o insuspeito João Garcia constatava que as sucessivas visitas das mais prestigiadas personalidades nacionais ao Estabelecimento Prisional de Évora começa a surtir o efeito positivo inerente a sucessivos testemunhos abonatórios a favor do ex-primeiro-ministro em contraponto com o silêncio cada vez mais comprometido da acusação.
Perante a suspeição quanto a uma tremenda injustiça, quanto por mais tempo ela se prolongar, maior deverá tornar-se o clamor de quem não pode aceitar este estado das coisas. Por isso mesmo o silêncio progressivo das televisões tem de ser combatido com uma intensa campanha nas redes sociais. Para que os guardas começam a sentir que não tardarão a contar com quem os deve guardar: os cidadãos, que não esquecem a necessidade de, além da liberdade, da igualdade e da fraternidade, também exigirem justiça para todos … incluindo para o político sobre que se queiram vingar por lhes ter mordido nos interesses corporativos.
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