Detestei a única vez em que interagi com polícias nos Estados Unidos.
O «Inago», navio onde então navegava, chegou a um porto perto de Newark e o piloto local, que viera apoiar a atracação, informou-nos da existência de um Portuguese American Club em Elizabeth não muito longe dali.
Ainda inexperiente - era então um jovem oficial de máquinas com vinte anos acabados de fazer - aproveitei o facto de ter acabado o meu turno às quatro da tarde para, conjuntamente com um dos fogueiros, meter pernas a caminho.
Não nos tínhamos afastado mais do que um par de quilómetros, quando demos com um carro-patrulha estacionado à beira de uma larga estrada. Naturalmente dirigimo-nos aos dois polícias ali a descansar para que nos indicassem a direção certa para onde pretendíamos ir.
Sobranceiros, perguntaram quem éramos. Quando os informámos olharam um para o outro, como que a combinarem o que diriam, e o do lado do passeio apontou para a frente e disse:
- Por ali levam para aí uns dez minutos!
Dizendo isso, puseram o carro a trabalhar e vimo-los a desaparecer nessa mesma direção, enquanto acelerámos cientes de não precisarmos de grande esforço para alcançarmos o objetivo.
É claro que passámos dez minutos a andar e nada! Apenas uma estrada comprida e quase retilínea onde poucos edifícios desérticos se viam. Mais dez, e nada de novo.
Às tantas demos com os néones de um motel e entrámos para questionar o empregado da receção:
- O Portuguese Club? E vieram a pé? Por esse andar nunca mais vão lá chegar!
Mas já que metêramos os pés a caminho, não era a meio que iriamos desistir. Tanto mais que na época - finais dos anos 70 - o Banco de Portugal não nos permitia aceder a mais do que 33 parcos dólares por mês nos portos onde tocássemos. Razão bastante para evitarmos os gastos com táxis!
Só ao fim de duas horas de marcha acelerada é que chegámos. Era sábado ao final da tarde e os portugueses dos arredores iam-se ali concentrando para o baile semanal e os sorteios destinados a obras de beneficência.
Felizmente encontrávamos também quem não faltaria em apoiar-nos com boleias e jantares nos dois ou três dias que ali estivemos. Mas a nossa antipatia por aqueles polícias que bem poderiam ter prezado o seu papel de, mais do que defensores da lei e da ordem, contribuírem para o bem estar de quem deles se socorria, nunca mais se apagou.
Os filmes e as séries norte-americanas não desmentiriam a ideia que deles nos ficou na memória: dê-se uma farda e uma pistola a um polícia norte-americano e ele julga-se dono do universo. Há fortes probabilidades de não existirem grandes diferenças de escrúpulos entre eles e os verdadeiros delinquentes, que deveriam controlar
Não admira, pois, o que se está a passar nas grandes cidades norte-americanas com milhares de cidadãos a protestarem contra o comportamento prepotente e mesmo psicopata de muitos desses agentes da autoridade, particularmente ativos quando se trata de matar jovens negros por dá cá aquela palha. Com o revoltante beneplácito de uma Justiça que, lá como cá, se mostra muito aquém dos seus deveres de equidade e de respeito pelos cidadãos, tratando uns quantos privilegiados com particular complacência e todos os demais com uma severidade bem ilustrativa dos seus preconceitos de classe…
Voltei aos Estados Unidos várias vezes nos anos que se seguiram. Mas nunca mais voltei a tomar a iniciativa de esperar qualquer apoio de um dos seus polícias!
Sem comentários:
Enviar um comentário