Num texto anterior já abordámos a entrevista concedida por António Guterres a Teresa de Sousa (Público, 28/12/2014), mas valerá a pena a ela voltar por conter análises pertinentes sobre muitas das situações, que nos inquietam.
A crise de liderança, que afeta a Europa é por ele vista como consequência duma tabloidização da informação, que dissuade os mais qualificados de sujeitarem-se ao enxovalho e à devassa da sua privacidade. A opinião pública tem sido manipulada pelos pasquins para engolir sucessivas patranhas, que acabam por repetir sem sentido crítico. Vide o sucesso com que, durante anos a fio, se quis fazer crer na superioridade da gestão privada em relação à do Estado.
Guterres refere, igualmente, a incapacidade de, até agora, as estruturas políticas não terem conseguido cativar a participação ativa dos cidadãos, quando têm ao seu dispor as ferramentas tecnológicas capazes de as facilitar.
Desse distanciamento resultou a perda de influência de alguns dos principais legados do Iluminismo: a supremacia da razão e da tolerância nas nossas sociedades. Por três razões, que ele destaca: “Em primeiro lugar, os nacionalismos agressivos; em segundo lugar, os fundamentalismos religiosos que não são apenas o fundamentalismo islâmico; e finalmente os conflitos étnicos que não têm justificação nos tempos modernos, mas que estamos a ver multiplicar-se de uma forma particularmente agressiva, com o afloramento de formas de racismo e xenofobia, mesmos nas sociedades mais desenvolvidas.”
Perante a falta de oportunidades de realização pessoal e profissional, que incrementa as frustrações dos jovens entre os vinte e os trinta anos, não causará propriamente espanto que, os de raiz muçulmana abracem o Islão radical, enquanto os demais optam pelo nacionalismo xenófobo. Para evitar esses comprometimentos de quem já perdeu esperança nas nossas sociedades, importa que o poder político a saiba recuperar e não se vê outra forma que não seja a de olhar para as pessoas como tal e não como números espelhados em gráficos de excel.
Face a uma evolução política, que tende a reduzir a influência da Europa nos anos vindouros, pouco ganho se obterá da desfragmentação dos seus polos de decisão pelos vários Estados-nações. A integração continua a ser uma prioridade, mas só exequível se não for traduzida no domínio quase absoluto da Alemanha e dos seus mais próximos aliados sobre os países do Sul em que nos integramos.
António Guterres não o diz explicitamente na entrevista, mas a solução para a melhoria da qualidade de vida dos portugueses residirá na capacidade de António Costa, Rienzi, Tsipras e outros líderes socialistas e sociais-democratas porem termo à orientação neoliberal da Europa, retomando o projeto visionário, que os fundadores da União tinham em mente, quando começaram por concretizar a ideia de uma Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.
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