1. A propósito da detenção de José Sócrates, o «Libé» publicou um artigo miserável, que apresentava o antigo primeiro-ministro como um oportunista sem ideias sobre a forma de governar um país nas circunstâncias em que o fez.
Lamentavelmente longe vão os tempos em que Jean Paul Sartre dava a sua caução intelectual a uma nova forma de fazer jornalismo, orientada para a transformação política da sociedade ocidental no sentido progressista.
Agora ao ver Jean Quatremer, um dos mais conhecidos jornalistas do mesmo «Libé» a verberar na televisão francesa contra a ala esquerda do Partido Socialista, que rejeita a proposta do governo Valls em aumentar o nº anual de domingos com abertura das lojas e hipermercados por a entender um precedente de cedência às tenebrosas forças do mercado, só podemos confirmar a evidência de já não existirem grandes diferenças ideológicas entre o antigo quotidiano de Serge July e o «Figaro».
2. Tudo o que poderíamos imaginar de pior sobre as formas crapulosas como a CIA tortura os que lhe caem nas garras estão confirmadas no relatório agora conhecido e cujo impacto ainda provoca ondas de choque no outro lado do Atlântico. E tal como poderíamos igualmente suspeitar esses presos sujeitos a tortura estavam dispostos a confessar tudo quanto «sabiam» e o que nem sequer «julgavam saber» só para evitarem a continuação do sofrimento.
O resultado é, em vez de se descobrirem informações úteis para agir eficientemente no sentido de alterar a relação de forças com os inimigos da Al Qaeda ou do Isis, só se «confirmam» as ideias preconcebidas dos torturadores.
Como José Sócrates constatou no seu ensaio sobre a tortura, além de inaceitável do ponto de vista civilizacional, ela acaba por se revelar quase sempre inútil para quem a perpetra…
3. Há uns anos um Segurança de um hospital algarvio foi despedido por ter cumprido o seu dever ao exigir a identidade a um sujeito que pretendia penetrar numa área reservada do edifício. Esse intruso era cavaco silva que, agastado, logo tratou de mandar punir quem se atrevera a lembrar-lhe o facto de não ter mais direitos do que os de um qualquer outro cidadão.
Agora dois funcionários do fisco estão ameaçados de afastamento compulsivo por terem pretendido consultar os dados de passos coelho.
Ficámos assim a saber que existe uma cintura de proteção em torno de tudo quanto se queira descobrir sobre a riqueza do primeiro-ministro com castigo sumário a quem se atrever em identificar em quanto orça.
Trata-se, assim, de um comportamento muito diferente do assumido por essa mesma Autoridade Tributária a respeito de José Sócrates, sobre quem já facilitou informações que, corretas ou falsas, já deram ensejo a muitos títulos em pasquins.
Mas também nos fica uma questão pertinente: com tanta proteção em torno do seu dossiê fiscal, que estará passos coelho a querer esconder?
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