Nos últimos três anos e meio os portugueses tiveram uma demonstração prática da Lei de Murphy, quando as coisas ficaram deveras complicadas com a crise dos subprimes, a falência da Lehman Brothers e o pânico da Comissão Europeia por se ver diante de uma frota completamente desgovernada.
Quando precisávamos de quem soubesse minimizar os danos e definir um rumo capaz de fazer sentido, passámos a juntar ao pior dos presidentes do Portugal democrático o pior dos primeiros-ministros.
Seria consolador que Deus, o destino ou qualquer outra explicação transcendente pudesse compensar um mau cenário com outro bem mais luminoso. Mas, hélas, as coisas são como são e o que está mal, ainda pode ficar bem pior se as circunstâncias promoverem políticos da estirpe de um passos coelho ou de um paulo portas.
Foi isto que pensei enquanto via um documentário extremamente divertido de Nick Broomfield e Joan Churchill.«Sara Palin: You Betcha!».
Não é preciso ter presente que passos coelho tem o néscio maçães como um dos principais braços direitos para o adivinhar fã quase incondicional da antiga governadora do Alaska e candidata derrotada a vice-presidente dos EUA nas eleições de 2008. Poderá não ser homofóbico nem racista, como ela, mas o ódio a tudo quanto cheire a Estado é o mesmo.
As semelhanças poderão ir mais além e por isso vale a pena olhar mais em detalhe para o filme em causa: tal como sarah palin, passos coelho é produto do espírito provinciano, eivado de preconceitos. Ela cresceu numa cidadezinha do Alaska onde as igrejas evangélicas têm uma relevância lamentável na difusão de valores trogloditas, ele foi radicar-se em Vila Real quando regressou a Portugal em 1974 na condição de retornado.
Um e outro também mostraram ambições políticas desde muito cedo pelo que chegaram muito naturalmente ao desempenho de funções nas associações de estudantes ou nas juventudes partidárias. Sem que revelassem qualquer talento especial para tal, já que nada os distinguiu enquanto estudantes, nem se lhes conheceu preocupações culturais dignas de realce.
Uma característica igualmente realçada pelos admiradores de uns e de outros foi a da simpatia. Os fãs de sarah ficam desvanecidos por ela os olhar atentamente enquanto lhe falam e pensam ter atenção exclusiva, por muito que já muitos tenham concluído que quem vê caras não vê corações. Por seu lado, passos coelho chegou a enganar o próprio Mário Soares que, em 2011, ainda o considerava “simpático e honrado”.
O filme de Broomfield e de Churchill expressa bem a ilusão em que incorreram muitos dos portugueses em 2011, votando esperançosamente naquele que viam como uma alternativa interessante para o governo de José Sócrates: nos primeiros vinte minutos chegamo-nos a interrogar se estamos a ver um documentário objetivo sobre sarah palin, se um filme produzido para a elogiar enfaticamente.
Mas a ilusão de tratar-se de alguém tão merecedora de simpatia começa a desvanecer-se quando se vê o outro lado da realidade: a sanha vingativa contra os antigos colaboradores, que tanto tinham trabalhado para a levarem ao poder e depois abandonados, se não mesmo despedidos apenas porque ela rapidamente os utilizou e atirou pela borda fora.
Com passos as muitas promessas da campanha eleitoral foram espezinhadas e reduzidas a palavras vãs!
Para além da ignorância, sarah palin desmascara-se como sociopata. E quando alguns pensam na possibilidade dela ter chegado à Casa Branca até se arrepiam com a perspetiva dela ter à mão o botão capaz de suscitar o apocalipse.
Não podendo causar danos tão drásticos, e ainda parecendo relativamente normal na aparência de fanático da ideologia que professa, passos coelho não pode deixar de assustar quando se possa antever academicamente a probabilidade, por ele tida como crível, em como ganhará as próximas legislativas!
Tal qual sucedeu com palin, o líder do tea party à portuguesa tem de ser travado. E reduzido à insignificância correspondente à ignorância e mesquinhez de que já deu provas tão substanciais.
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