A queda abrupta do Grupo Espírito Santo constituiu uma espécie de terramoto cujas sequelas ainda perdurarão por muito tempo na vida política e social do país.
Fiado na veia congénita de mentiroso compulsivo, passos coelho veio prometer amanhãs que cantam como se estivéssemos perante uma nova versão do combate do impetuoso Novo contra o decadente Velho. O convívio com os representantes do Partido Comunista Chinês, que se vão apossando aceleradamente de fatias significativas do que restava do setor público da economia (ou seus derivados, como foi agora o caso do BESI), leva o ainda primeiro-ministro a replicar uma das teses preferidas de Mao Zedong quando lançou a Grande Revolução Cultural e Proletária. Foi isso que pareceu no discurso perante os “jovens” laranjas a quem voltou a pregar o discurso de ódio aos reformados que, na sua perspetiva, vivem muito acima das possibilidades do país, como se não tivessem descontado para tal durante uma vida inteira de trabalho.
Decerto que tendo aberto há pouco tempo a «História Chinesa para totós», passos coelho ainda não chegou à parte dos malefícios de tal estratégia, que quase ia destruindo o país dos antigos mandarins.
Por outro lado, se apostar exclusivamente na ideologia neoliberal, que só revela conhecer muito pela rama, bem pode esperar que o vazio suscitado no mercado bancário pelo afastamento da família Espírito Santo seja ocupado por messiânicos investidores apostados em com ele colaborarem na redenção económica do país.
Como se viu com todas as consequências da queda do Muro de Berlim ou das Primaveras Árabes, as mudanças abruptas de um contexto geram amiúde um caos mais destrutivo do que construtivo. Por isso mesmo quem tece ilusões sobre a possibilidade de ver exorcizados da economia portuguesa muitos dos seus demónios, que explicam as sucessivas falências de bancos e a corrupção ligada aos vistos gold, bem pode esperar sentado.
Quem tem assistido às sessões da Comissão Parlamentar sobre o caso BES pode concluir que entre salgado e ricciardi, entre pêquêpê e amílcar, entre vítor bento e carlos costa, não há quem ali se ajuste ao papel de menino de coro. Todos a seu modo contribuíram para o desastre, que se adivinha vir a traduzir-se em sérios custos para os contribuintes. Por exclusiva responsabilidade de maria luís albuquerque, que surpreendentemente, e numa demonstração inequívoca de quanto nada percebem quanto ao que está a acontecer, várias estruturas distritais do PSD anseiam ter como sua cabeça de cartaz para as próximas legislativas.
O certo é que, já não sendo fáceis os desafios que o esperam no respeitante ao desemprego, à pobreza infantil ou ao pagamento da dívida, António Costa ainda contará para o rol das suas preocupações com o desenovelar deste tremendo embaraço bancário.
Tudo teria sido muito mais fácil de solucionar se, tomando por boas as lições colhidas com o BPN, o governo tivesse optado por uma intervenção determinada no BES nacionalizando-o. Mas essa seria decisão contranatura por parte de quem tem na alma uma fúria privatizadora, que se torna difícil de controlar.
E faltando quase um ano para que um novo governo tome posse é imensa a capacidade de passos coelho de ainda tornar mais difícil o que já parece complicado. Até porque o seu fanatismo é o dos que preferem deixar terra queimada atrás de si do que lançar as sementes para colheitas futuras.
Mais do que uma espera inócua, este tempo ainda em falta pode ser o de malfeitorias sem fim contra o futuro dos portugueses.
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