É sabido que a Europa anda a conviver muito mal com os seus ciganos. Na Hungria quase os tratam como outrora os nazis, sendo frequentes os progroms executados pelos facínoras da extrema-direita. Em França vão expulsando-os de sucessivos baldios, que vão ocupando aqui e além. E a imagem estereotipada, que deles persiste é a de pilha-galinhas ou de respigadores de lixo.
A What’sup Productions é uma produtora de conteúdos para diversos canais de televisão franceses e, no seu âmbito, Yann Le Gléau e Sébastien Mesquida assinaram uma reportagem em que acompanharam os ensaios e a apresentação mais recente no Olympia do grupo eslovaco Késav Tchavé constituído por uma vintena de jovens dessa etnia com idades compreendidas entre os 6 e os 25 anos. Treinados pelo voluntarioso Ivan Akimov, esses «filhos da fada» (tradução do seu nome eslovaco) procuram transmitir a cultura e as aspirações que os norteiam numa Europa, que os tende a rejeitar.
Ivan Akimov criou este grupo há quinze anos, depois de muitos anos passados em França como exilado político. Com a esposa Helena, Ivan percorre os bairros da lata do leste da Eslováquia para recrutar jovens cantores dançarinos e músicos.
As crianças ciganas vivem na maior das misérias, sofrendo com a exclusão social de que são vítimas. Foi para elas que Ivan e Helena Akimov criaram uma escola onde lhes facultam o ensino secundário e lhes inculcam o orgulho pela língua e pela História, que transportam nos genes.
O documentário também entrevista os pais dessas crianças, que sentem uma justificada nostalgia pelos tempos do comunismo, quando tinham empregos e estavam integrados no conjunto da sociedade. Para eles a democracia burguesa, com o desemprego e a segregação de que se tornaram vítimas, revelou-se uma tragédia pessoal.
Na escola, se os dias são preenchidos com aulas, as noites são dedicadas à música. Os instrumentos saem dos estojos e as raízes ciganas inundam as trevas de sons.
O grupo adquiriu uma tal notoriedade que, no fim de outubro, teve um espetáculo exuberante no Olympia de Paris, aquando de uma tournée a meias com os Ogres de Barback.
Yann Le Gléau e Sébastien Mesquida já tinham conhecido Ivan em 2013, quando rodaram uma série de Euro-retratos sobre personalidades com um percurso pessoal impressionante. Seduzidos por tal carácter decidiram acompanhá-lo entre o gueto onde trabalha e a prestigiosa sala parisiense. No caminho ainda param num dos muitos acampamentos clandestinos de ciganos na periferia de Paris e numa manifestação no Trocadero.
Nos próximos dias este documentário ainda pode ser visto no link http://info.arte.tv/fr/roms-en-slovaquie. Em alternativa fica em baixo o de um espetáculo em Rennes no ano anterior.
Se, pessoalmente, das músicas populares do leste europeu, prefiro as vozes búlgaras ou a exuberância das bandas de casamentos e funerais da antiga Jugoslávia, esta história de revalorização da cultura cigana merece-me particular respeito: Ivan Akimov é, de facto, um europeu admirável...
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