1. Uma carta para o «Diário de Notícias» e as visitas de António Guterres e de Fernando Gomes mantêm José Sócrates na linha da frente dos protagonistas dos nossos dias. O que é excelente, porque vai a contracorrente dos que o pretenderam calar.
Já o sabíamos, mas é sempre bom comprová-lo: quem quis humilha-lo sem sequer ter fundamentados os motivos para o acusar, não adivinha com quem se meteu.
Quem vai testemunhando sobre o seu estado de alma dá conta de uma força de carácter, que condiz com os motivos porque tantos o admiram. Porque não há quem o consiga quebrar e muito menos coartar na determinação em virar o feitiço contra o feiticeiro, criando as condições para levar ao pelourinho quem abusa do poder e julga possível recuperar comportamentos similares aos do antigamente, que tanto execramos!
2. Nunca apreciei rui rio e detestaria quase tanto ver o país por ele governado como por passos coelho. Muito provavelmente os mais desfavorecidos continuariam a ser prejudicados em favor dos que sempre lucram em todas as circunstâncias, sejam elas de crise ou de “vacas gordas”. E quanto à Cultura, por aquilo que se viu durante os seus mandatos no Porto, o panorama não seria muito diferente do atual.
Tenho, porém, de reconhecer que, pelo menos em ética, o antigo autarca do Porto deixa o seu presidente de partido a muitas léguas de distância. Quando diz “não posso aceitar esta permanente violação do segredo de justiça. Chamar a comunicação social para assistir a uma detenção e depois continuar a fazer a reportagem e depois pôr peças que estão em segredo de justiça na comunicação social é absolutamente inadmissível. Digo isto seja para quem for”, rui rio demonstra que, mesmo à direita, nem todos os políticos são iguais..
E só podemos subscrever o que ele diz ao denunciar o circo montado em torno da detenção de José Sócrates: “A Justiça é um assunto de Estado, não é um show. A Justiça não é para concorrer em audiências da TV com futebol ou com o Big Brother, a Justiça é um assunto sério e é um assunto de Estado”.
Conviria que juízes e magistrados adotassem a sobriedade aconselhada por este relevante nome da direita portuguesa.
3. Um bom exemplo de como surge de várias direções a tentativa de voltar ao antigamente está na decisão do Governo em demitir o conselho de administração da RTP.
Não é que Alberto da Ponte e os seus vogais tenham sido exemplares na forma como assumiram a gestão da televisão pública durante estes quase três anos na titularidade dessas funções.
Até mesmo a decisão de gastar dinheiro na Liga dos Campeões, quando seria bem melhor aplicado em transformar a RTP numa verdadeira ferramenta formativa, quer do conhecimento, quer da cidadania dos portugueses, merece alguma circunspeção. Mas o que está em causa é outra forma de ver a questão: quando miguel relvas nomeou esta administração tinha por objetivo apressar o processo da sua privatização.
O mérito de exigir e garantir uma RTP pública e independente dos ditames do governo não cabe a esta administração, nem aos seus atuais diretores - pelo contrário bastante obsequiosos para com passos coelho e os seus comparsas - mas reconhece-se-lhes a aspiração em viabilizarem financeiramente a continuidade da televisão pública mesmo com a asfixia financeira imposta pelo governo. A contratação da Liga dos Campeões pode ser entendida nesse sentido: é claro que a SIC e a TVI ficarão privadas de receitas publicitárias bastante significativas, mas são essas que poderão sustentabilizar o futuro da RTP enquanto ela continuar a ser vista como um patinho feio a estrangular o mais rapidamente possível.
O que fica definitivamente desmascarada é a pseudo autonomia da RTP em relação ao governo pela forma como o conselho “independente” nomeado por poiares maduro se comportou em toda esta questão.
O governo poderá sempre dizer que não terá corrido com Alberto da Ponte e a sua equipa, mas que se terá limitado a seguir a orientação desse CGI. Mas não haverá quem se deixe enganar por mais uma tosca manobra para querer iludir as evidências. Tanto mais que até a ERC, quantas vezes disposta a fazer fretes ao governo através da maioria conseguida à custa do voto do seu presidente (carlos magno), aprovou desta feita um parecer que deixa mal na fita quer poiares maduro quer os seus domesticados conselheiros “independentes”.
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