A conferência da ONU ontem iniciada em Lima parece estar a criar expectativas mais positivas do que o costume para que se se venham a tomar medidas concretas de salvaguarda das condições de vida no planeta mediante um melhor controlo das alterações climáticas. O facto de EUA e China aparecerem coligados no objetivo de reduzirem as respetivas emissões de gases para a atmosfera consubstancia no essencial essa esperança.
Mas o acontecimento político suscita-me a recordação de uma passagem pela capital do Peru já lá vão uns bons vinte cinco anos.
Ia à espreita das encantadoras e decadentes vivendas coloniais, que tinham testemunhado passados bem mais florescentes, quando, numa avenida, vi grande aparato de bombeiros a combaterem um incêndio, que já lavrava nalguns dos andares mais elevados de um prédio com outros sete ou oito.
Até aí tudo normal. A surpresa foi que, mesmo ao lado desse edifício, ficava uma garagem térrea onde reinava grande animação. Pela porta bastante ampla, onde estava quem cobrava bilhetes de entrada, viam-se casais a dançar animadamente ao som de um grupo musical sem sequer ponderarem na possibilidade de se informarem do que se estava a passar na rua. Nem a curiosidade nem uma elementar precaução de segurança os levava a abandonar o entusiasmo pelo tango, que os fazia desenhar figuras de belo estilo.
Diria ali testemunhar uma boa metáfora sobre os tempos atuais: apesar de estarmos tão próximos do perigo há quem o ignore ostensivamente como se apenas interesse prazer colhido no instante presente.
Espero que o facto da conferência estar precisamente a decorrer em Lima não lhe associe o estado de espírito, que então ali parecia reinar. Porque os sinais de inquietação sobre a sustentabilidade da vida na Terra continuam a justificar-se plenamente.
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