É uma regra quase cientificamente comprovada na ciência política: sempre que um poder é fraco, tende a apostar em exibições de força a fim de tentar enganar quem se lhe opõe quanto à sua indisfarçável fragilidade.
As últimas semanas têm sido pródigas em demonstrações desta tese, mas ontem teve o seu episódio mais eloquente com a requisição civil dos trabalhadores da TAP nos dias aprazados para a sua greve.
Se havia quem manifestasse egoisticamente o incómodo por se ver prejudicado por tal conflito laboral sem pensar nos seus bem superiores prejuízos futuros com a entrega a privados de um ativo de manifesto interesse nacional, já começavam a ser cada vez mais audíveis as vozes de quem acusa o governo de estar a avançar para um autêntico crime. Por isso mesmo Mário Soares classificou de patriótica essa greve e surgiram vários artigos de opinião de comentadores influentes a não encontrarem qualquer razão para passos coelho e pires de lima entregarem de bandeja uma empresa deste quilate à ganância do capital privado.
Numa altura em que se justifica duvidar das aparências e suspeitar de cumplicidades bem mais subterrâneas, justifica-se a questão de saber com quem o PSD e o CDS já se comprometeram para apressarem o mais possível a privatização da empresa. É que, depois de tudo quanto os portugueses já perderam com a entrega da EDP e da REN a chineses, dos CTT à Goldman Sachs e respetivos amigos e da ANA aos franceses, já ficaram por demais desmentidos pela realidade uns quantos mitos em tempos tão exaustivamente repetidos: nem a gestão privada provou ser mais competente que a gestão pública, nem a “concorrência” trouxe preços mais baixos para combustíveis, eletricidade ou taxas de aeroportos, nem se acrescentou um cêntimo estrangeiro à nossa Investigação Científica, nem se trouxeram novos investimentos e conhecimento à indústria, nem …
A lista poderia ser ainda mais exaustiva, mas bastam estes exemplos para se concluir terem-se privatizado empresas fundamentais para o país apenas para arranjar com que pagar a cada vez mais ruinosa dívida aos credores estrangeiros.
A arrogância de pires de lima ao anunciar a requisição civil é a dos ídolos com pés de barro. A maré cheia já lhes está a roer as fundações, mas continuam a olhar para diante com os olhares mais ameaçadores, que conseguem encenar. Uma variante não menos ridícula dos desempenhos a que nos habituou no parlamento. A derrocada abrupta está quase a acontecer.
Mas esta lógica da prepotência dos fracos perante ao previsível mudança, que os abafará, é também a de carlos alexandre e dos seus cúmplices na procuradoria-geral da república, dispostos ao mais indigno arbítrio para procurarem suster a vaga que aí vem. Por isso tanto à pressa arquivam os processos comprometedores para os amigos (vide o caso dos submarinos) como jogam no trunfo Sócrates para criarem o que julgavam ser a inversão da dinâmica prevista pelas sondagens.
Tal como pires de lima julgou colher dividendos em se mostrar forte contra trabalhadores, que erradamente imaginou bem mais impopulares do que o são, também a infâmia feita a José Sócrates tem o cunho dos que julgam os portugueses suficientemente patetas para acreditarem no lixo divulgado pelos pasquins do costume. Em vez de serem vistos como os toureiros bem sucedidos, que dão voltas à praça a colher olés e serpentinas, deparam-se com os amigos dos animais, que veem nos seus atos a prossecução absurda de um comportamento indesculpável.
Quer carlos alexandre, quer rosário teixeira, quer a procuradora vidal, que tudo tem avalizado poderiam ter lugar num país totalitário onde a acusação tinha todos os trunfos e a defesa nada podia, Mas mostraram-se indignos de uma sociedade democrática e moderna!
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