1. Hoje conhecemos, através do «Jornal de Notícias», a correspondência trocada nos últimos dias entre José Sócrates e Mário Soares. E se a admiração pelos dois socialistas já era enorme, não sei que qualificativos poderei utilizar para exprimir a reação, que ela me suscitou. Porque Sócrates aproveita a oportunidade de dar os parabéns ao fundador do PS pelos seus 90 anos, teorizando com substância sobre a razão do carisma de que o sabe eivado: a coragem que sempre demonstrou nas diferentes fases do seu percurso político.
Se sentíramos no antigo primeiro-ministro qualidades políticas acima da média e capacidade de visão para projetar um país moderno e desenvolvido como aquele a que aspiramos, os estudos de filosofia em Paris e a terrível provação por que tem passado nestes quarenta dias, aprofundaram a agudeza da sua análise sobre tudo quanto aborda.
Que diferença entre um político, que leu e interiorizou o que escreveram Kierkegaard ou René Char, em comparação com o néscio, que somos obrigados a suportar e cuja “cultura” foi adquirida em manuais de autoajuda…
E coragem é o que Mário Soares também reconhece no seu interlocutor epistolográfico: um e outro são feitos da mesma fibra do antes quebrar que torcer, já que ambos desta corte homens não são!
O que as cartas revelam é a superioridade intelectual e moral de dois homens que, por isso mesmo, são odiados e vilipendiados por medíocres, que não suportam a sua própria menoridade!
2. Sem surpresa o primeiro-ministro grego samaras foi obrigado a convocar eleições legislativas antecipadas. Nem um dia se passou e a chantagem dos mercados e das organizações, que os representam já começaram. A Bolsa grega afundou mais de 11%, o FMI congelou a tranche do programa de “ajuda” e o discurso da direita é uma variante de «nós ou o caos».
Das minhas memórias do meio ano, que vivi na Grécia em 1988, fica a noção da teimosia de quem lá vive. Recordando o Apostolatos ou o Ifimios, com quem trabalhei mais diretamente o estaleiro de Perama, perto de Pireu, não os vejo cederem facilmente a quem se põe com ameaças. Por isso mesmo faço votos para que o Syriza vença já que o PASOK deixou, infelizmente, de merecer a designação de socialista.
É certo que os 50 deputados a mais, que Tsipras poderá acrescentar aos que as eleições lhe propiciarem, por ser o partido vencedor, não bastarão para a maioria absoluta. Mas confio que saiba conseguir a aliança de esquerda necessária para enfrentar os mercados com determinação.
Já é tempo demais, este em que eles têm ditado ordens indignas para empobrecerem os povos do sul da Europa. Com uma nova realidade política na Grécia e o apoio cada vez maior de Renzi em Itália, poderão surgir as condições propícias para infletir um rumo austeritário, que uns quantos quereriam tornar eterno.
3. As notícias que chegam da Hungria também são animadoras. Ali tem mandado viktor orban, um ditador que aproveitou os erros cometidos pelos socialistas para alcançar uma maioria absoluta e estabelecer um poder autocrático onde as liberdades fundamentais são continuamente violentadas.
Desde outubro, porém, crescem as manifestações, que começam a demonstrar como a democracia não se resume à designação eleitoral de um governo. E embora a mudança não seja já para amanhã, orban está a ser denunciado como um rei, que vai nu… e não tardará a ser apeado!
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