Será que é preciso mais para comprovar a natureza estritamente política, e escassamente judicial, da detenção de José Sócrates?
A decisão do juiz carlos alexandre e do procurador rosário teixeira em quererem impedir o antigo primeiro-ministro de livremente expressar as suas posições, em entrevistas para que foi solicitado, é elucidativa quanto ao grau de arbitrariedade assumido hoje por uma certa “justiça” e a que urge pôr cobro. Porque, quando um juiz e um procurador consideram ter poderes bastantes para privar um qualquer cidadão de um dos seus mais importantes direitos constitucionais, só demonstram como algo está realmente podre na coutada de paula teixeira da cruz.
Compreende-se que o Partido Socialista, e António Costa em particular, tenham a máxima prudência ao expressarem opiniões sobre esta matéria, mas o que de gravíssimo tem rodeado toda este caso em particular, mostra bem como é fundamental a eleição de um governo suficientemente forte para esmagar uma serpente, que já se permitiu chocar no ovo e sair cá para fora agitando perigosamente a sua língua viperina. Sobretudo através dos tais “jornalistas”, que dela se tornam altifalantes, lançando “informações” supostamente colhidas no processo e, como tal, inseridas no tal “segredo de justiça” só imposto ao mais fraco.
Há muita gente a considerar improváveis os contornos conspirativos de tudo quanto tem sucedido, mas quando há muito o sindicato dos magistrados anda a expressar intenções corporativas, que vão muito além delas e ambicionam transformar-se em captura do Estado em proveito de uma versão justicialista da sua organização, é motivo para nos interrogarmos sobre a altura escolhida para lançar aquilo que António Campos designou como uma bomba atómica. E porquê depois de o Partido Socialista libertar-se de uma direção suficientemente fraca para imaginar-se facilmente derrotável, e perspetivar-se a partilha do poder político entre uma direita impopular e um poder judicial incensado por alguns demagogos tipo paulo morais que, em nome de um certo conceito de “transparência”, vendem uma versão criptofascista da realidade nacional.
Não é difícil crer que os inspiradores de toda esta estratégia a tenham sentido em perigo com a vitória de António Costa nas Primárias. E, quando viram - e as próprias sondagens o confirmaram! - que a narrativa sobre a “tralha socrática” já não surtia o efeito pretendido no eleitorado, terão avançado para uma espécie de plano B. Ter-se-á tratado de uma mera coincidência, que fizessem coincidir a detenção de José Sócrates com a realização do XX Congresso do Partido Socialista?
Podemo-nos fazer de ingénuos por momentânea conveniência política, mas rejeitamos sê-lo! Há acasos, que nada a ele devem e o sinal dado pela procuradoria-geral da República e pelo juiz do Ticão foi mais do que elucidativo! Será por neles confiar que passos coelho anda a aparentar uma prescindibilidade do seu parceiro de coligação para ganhar as próximas eleições? Qual a jogada que os autores desta infâmia preparam para o passo seguinte?
Neste momento podemo-nos interrogar se as absurdas sentenças contra Armando Vara e contra Maria de Lurdes Rodrigues não serviram de teste para esta fase da sua estratégia. E se o boato lançado há um par de semanas sobre um eventual pedido de quebra da imunidade parlamentar ao deputado Paulo Campos também nela não se insere.
Vivemos um momento decisivo na vida política do país e, ou deixamos que esta forma de totalitarismo se expanda, ou acabe destruído com as próprias armas, que utiliza.
Há quarenta anos o Partido Socialista esteve com Mário Soares a liderar o combate a um tipo de totalitarismo. A ver vamos se terá agora de protagonizar outro de não menor dificuldade contra este de sinal contrário.
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