Conhecido pelas montanhas e pelo xarope de ácer, o Vermont é um pequeno Estado tranquilo do nordeste norte-americano.
Foi ali que Sophie Nivelle-Cardinale, a realizadora de uma reportagem impressionante transmitida esta semana no canal franco alemão ARTE, passou parte da adolescência, e onde dois dos seus primos, Mikael e Jenifer, tornaram-se toxicodependentes da heroína.
Na componente americana da sua família o assunto foi tabu durante muito tempo. E ninguém quis imaginar que “os problemas de Mikael e de Jenifer com a droga” pudessem estar ligados à heroína, já que o Vermont parece muito distante dos guetos das grandes cidades norte-americanas ou do mundo do espetáculo a que se associam normalmente esse tipo de dependência.
Sophie procurou com o seu filme compreender como é que a heroína conseguira chegar àquele recanto natural e à sua própria família, típica da classe média.
Nos últimos meses tem havido um contínuo crescimento no número das overdoses e a polícia vai anunciando operações em que as quantidades de heroína apreendida vão batendo sucessivos records. Não é difícil concluir que nunca houve tanta heroína em circulação nos EUA.
O filme mostra algo de ainda mais inquietante: a sociedade norte-americana tende a perder as suas referências identitárias e há quem não saiba muito bem para onde se virar. E quando as drogas estão tão acessíveis a situação só tenderá a agravar-se.
Para já não parecem existir senão respostas locais e, nesse aspeto, o Vermont até faz figura de laboratório para uma abordagem mais de cariz médico do que repressivo do fenómeno. Mas o Estado Federal parece alheado de uma dimensão avassaladora do problema, que se torna cada vez mais mediático porque deixou de estar cingido aos pobres dos guetos para atingir em força as classes médias.
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