Os erros da Justiça estão na ordem do dia.
Esta semana um homem, que fora condenado pela morte da tia, foi libertado depois do crime ter sido confessado pelo verdadeiro autor. O que diz muito sobre a atuação da Polícia Judiciária, do ministério público e dos juízes que o condenaram quer na primeira instância, quer depois na Relação.
Do Ohio também vem a notícia de um homem, Ricky Johnson, desde há 39 anos metido no corredor da morte por um crime para o qual apenas existira o testemunho de um miúdo branco de 12 anos. Agora, este último, já quinquagenário, veio confessar a insuportabilidade de viver com a culpa de ter incriminado um inocente e confessou a mentira a que fora induzido.
Este episódio, eloquente sobre a facilidade com que a Justiça, erra choca frontalmente com os que afiançavam, a propósito dos casos de pedofilia na Casa Pia, que «as crianças não mentem».
Ai mentem, mentem, como a tragédia que envolveu Ricky Johnson bem demonstra. E por isso mesmo há quem tenha mais do que sérias dúvidas sobre a justeza da incriminação de Carlos Cruz.
Será que um dia destes veremos algumas das supostas vítimas a terem um rebate de consciência e a confessarem o quanto terão sido pressionadas pelas cabritas e pelas pestanas para mediatizarem ainda mais o caso à conta do falso envolvimento de um nome público? Quem então indemnizará o antigo locutor de televisão por todos estes anos de condenação ao opróbrio?
Da mesma forma quem pagará o custo do país ter ficado sem o contributo ativo de um dos mais brilhantes políticos da sua geração - Paulo Pedroso - a quem os media trataram da mesma forma infame como agora está a ser sujeito José Sócrates nunca mais podendo exercer as funções públicas para as quais parecia tão dotado?
Por todas estas razões devemos estar civicamente atentos às diatribes cometidas pelo setor da Justiça. É que, ao contrário das palavras nada inocentes de Maria José Morgado na SIC, o problema do país não está na suposta promiscuidade entre o poder político e os negócios. Até porque ela é veementemente condenada quando parece beneficiar o Partido Socialista, mas é vista como sinal de modernidade e de empreendedorismo quando está umbilicalmente ligada ao PSD ou ao CDS.
Até pela formação política passada - que deveria ter-lhe facultado pelo menos a capacidade para analisar todos os fenómenos políticos de acordo com os princípios da Dialética, - a magistrada deveria ter presente a sucessão de acontecimentos das últimas semanas como o produto do confronto entre opostos: com a queda da família Espírito Santo os que costumam mandar estão a repetir a estratégia já verificada quando, no BPN, concentraram em oliveira e costa todas as culpas e assim se livraram os dias loureiros e todos os amigos de cavaco, que ali andavam a tratar da sua vidinha. Não sem garantir que a “resolução” do caso tenha beneficiado outro conhecido amigo da mesma “família” - o omnipresente mira amaral.
Promiscuidade entre poder político e financeiro? Sem dúvida, mas no contexto da luta de classes em que a alta burguesia enriquece à conta da média e da pequena burguesia, que trata de fazer empobrecer o mais possível até reduzi-las à indigente qualidade de vida do proletariado.
No caso da operação Marquês também é de luta de classes que se trata. Porque os tais que mandam querem dar um sinal claro ao Partido Socialista, agora que António Costa promete virar de pernas para o ar tudo quanto essa alta burguesia - os tais que continuaram a enriquecer durante a crise enquanto todos os outros empobreceram– conseguiu à boleia do que a troika «impôs».
Ora acontece que a luta entre os contrários nem sempre beneficia os mesmos. A História até tem sobretudo avançado, quando os vencedores do costume são derrotados pelos vencidos de ontem e de anteontem. É disso mesmo que estamos precisados aqui neste cantinho à beira mar plantado...
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