terça-feira, 25 de março de 2014

POLÍTICA: Tão amigos que eles não conseguem ser!

Obama anda pela Europa para mostrar a Putin a existência de uma convergência muito ampla no apoio aos golpistas que tomaram o poder em Kiev.
No entanto, se a retórica promete ser violenta com mais sanções e promessa de ostracismos, dificilmente a realidade se compadecerá com tal fachada. Porque, no verdadeiro objetivo para a digressão - a assinatura de um acordo comercial entre os EUA e a União Europeia - as divergências são de tomo e dificilmente serão superáveis no curto prazo.
De acordo com Isabel Arriaga da Cunha, que as sistematizou para o «Público», elas focalizam-se em quatro questões principais.
1. ONDE SE JULGARÃO OS LITÍGIOS EMPRESARIAIS?
Os norte-americanos gostariam que, caso exista algum litígio entre uma das suas empresas na Europa e o governo do país onde ela se situe, não sejam os tribunais locais a decidir a questão, passando-a para os tribunais arbitrais internacionais que são pouco transparentes, não têm qualquer possibilidade de recurso e discriminam as empresas nacionais.
Um bom exemplo do que isso significaria está a passar-se na Austrália, onde o governo local quis afixar alertas antitabagistas nos maços de cigarros da Philip Morris e se viu a contas com um processo, porque a empresa norte-americana exige ser respeitada a complacente legislação do seu país.
2. As questões agrícolas
Os americanos querem ver abandonado o “princípio de precaução” europeu, que lhes veda a possibilidade de exportarem OGM, carne de vaca com hormonas de crescimento (proibidas na EU desde 1981) ou a carne de frango desinfetada com cloro. Por seu lado os europeus não percebem as restrições aos seus produtos lácteos no outro lado do Atlântico. Mas, mais importante ainda, pretendem o respeito das indicações geográficas de determinados produtos específicos, que impeça o fabrico de cópias norte-americanas de queijo parmesão, do feta grego ou do vinho do Porto.
3. INTEGRAR OU NÃO OS SERVIÇOS FINANCEIROS?
Os europeus desejam integrar os serviços financeiros no futuro acordo para criar princípios comuns de regulação do setor. Algo de que o parceiro atlântico nem quer ouvir falar, convencido de já ter criado regras bastantes para evitar uma repetição da crise de 2008.
4. ACABAR OU NÃO COM A DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA DA EUROPA FACE À RÚSSIA?
Até para retirarem argumentos a Putin, os europeus gostariam de importar mais gás e petróleo norte-americano, resolvendo assim, em parte, a sua dependência energética da Rússia. Mas Obama terá dificuldade em aliviar as regras internas, que limitam o volume dessas exportações, porque logo agastaria os poderoso lobbies, que as defendem como forma de manter os preços baixos tidos como imprescindíveis à competitividade das empresas que representam.
Temos, pois, prometidos dias de grandes encenações e de juras de amor entre Washington e Bruxelas, mas pouco mais se passará. No entretanto Putin continuará a aguardar pelo amadurecimento das condições para a Ucrânia se caotizar, ciente de que, no fim de contas, as realidades económicas se sobreporão aos grandes princípios com que os dirigentes atlantistas têm adornado os seus mais recentes discursos…
Até porque as pesadas faturas da Gazprom continuarão a chegar a Berlim e a Kiev. Com prazo de pagamento!


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