Devastadora, demolidora - os adjetivos sobre a forma como a semana se caracterizou para o governo andaram por esse tom, quer pelas notícias vindas do seu seio, quer pelas estatísticas, que vão revelando o verdadeiro retrato do país depois de três anos de fanatismo austeritário.
A tentativa do ministério de maria luís albuquerque para atirar o barro á parede a propósito dos cortes definitivos nas pensões e da sua valoração em função dos comportamentos de alguns indicadores económicos resultou numa trapalhada, que obrigou passos coelho, paulo portas, poiares maduro e marques guedes a negarem o que se adivinha só se pretender anunciar para depois das eleições europeias. Como realçava José Sócrates no seu comentário semanal, não só os portugueses viram confirmados os planos de novos cortes nos seus rendimentos, como puderam assistir ao esforço em manter debaixo da mesa as más notícias preparadas para depois daquela data.
Mas o desnorte nas hostes afetas ao governo também teve o contributo dos números revelados pelo INE sobre 2012: dois milhões de portugueses são pobres ou estão em risco de o ser (vivem com menos de 421 euros por mês). Esse é o resultado trágico da forma como passos coelho quis que o país empobrecesse para garantir a satisfação dos interesses da banca europeia, a quem deu tempo para se livrar da dívida portuguesa e passa-la em grande parte para a banca e a segurança social nacionais.
O país do “milagre económico” e da “ saída limpa” é o mesmo em que um em cada cinco portugueses vive abaixo do limiar da pobreza mais extrema.
Outra notícia, que não está a correr bem é a da campanha do mesmo ministério das revelações comprometedoras a respeito do sorteio de um automóvel de luxo a troco de pedido de faturas. Para além da campanha publicitária, que lhe está subjacente (e será difícil o governo justificar ações publicitárias em prol de uma qualquer marca de automóvel em detrimento de todas as outras!), a revelação dos custos inerentes à manutenção anual desse mesmo prémio foi de molde a assustar os mais entusiastas “participantes” nesse logro. A iniciativa liderada pelo secretário de estado paulo núncio está destinada a tornar-se numa das mais amargas anedotas de humor negro da década, que estamos a viver.
Igualmente desfavorável a constatação do INE quanto à forte possibilidade de, se continuarmos por este caminho, estarmos reduzidos a apenas 6,3 milhões de habitantes em 2060 e com um ratio de 464 idosos para 100 jovens. Torna-se imprescindível criar condições para infletir sustentavelmente as curvas de natalidade do país. Mas como consegui-lo se o governo aposta em retirar cada vez mais direitos e subsídios a quem tem filhos, se facilita o despedimento ilegal nas empresas e de que as grávidas são alvo privilegiado ou se não dá garantias de estabilidade a casais jovens para terem condições de qualidade de vida para apostarem no crescimento dos seus núcleos familiares?
O capitalismo selvagem de que passos coelho e paulo portas são fiéis seguidores vai causando as condições para terríveis convulsões sociais se não for rapidamente derrotado e substituído por um socialismo renovado e adaptado aos desafios do século XXI.
Alguns dos princípios fundamentais do keynesianismo têm de ser retomados e reequacionados com os decorrentes do marxismo enquanto corpo ideológico mais vocacionado para a necessidade de uma maior justiça social.
Por muito que lhes custe os belmiros, os soares dos santos, os amorins ou os ulrichs têm de ver cerceadas as asas, que os fizeram voar alto de mais. Não são eles quem conseguem promover o crescimento da economia e do emprego. Mas o Estado pode e deve fazê-lo começando por pôr em causa o princípio de tudo ser privatizável!
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