A notícia da morte de Alain Resnais não nos surpreendeu tanto quanto a de Philip Seymour Hoffman algumas semanas atrás, já que o sabíamos já nonagenário. Mas sendo ainda tão recente o sucesso do seu filme «Amar, Beber e Cantar», justificava-se alguma expectativa quanto à criatividade e inteligência com que continuava a enfileirar projetos cinematográficos uns atrás dos outros. Afinal, se podemos apregoar algum orgulho pela longevidade criativa do nosso Manoel de Oliveira, nada impediria que ele constituísse caso único.
Com Resnais essa possibilidade não se verificará, apesar de demonstrar uma tal jovialidade neste seu título derradeiro, que mereceu do júri do Festival de Berlim o prémio habitualmente atribuído a jovens realizadores pelos méritos da sua inovação.
Mas essa capacidade de surpreender esteve sempre presente ao longo de toda a sua vasta filmografia. O primeiro filme que dele vi - «O Ano Passado em Marienbad» - foi no quase esquecido Copacabana da Costa da Caparica com a plateia literalmente cheia com os veraneantes aí de férias num verão da década de sessenta. No final restávamos meia dúzia de resistentes.
Essa iniciação à obra de Resnais preparava-me para o que tinha por certo nas décadas seguintes: quando entrávamos numa sala de cinema para assistir a um dos seus filmes deveríamos estar disponíveis para nos surpreendermos. E também para ficarmos encantados com a inteligência da proposta, com que ele nos desafiava. Tanto mais que nos fazia cúmplices efémeros dos desempenhos sempre superlativos de um conjunto de atores e atrizes cujo desempenho era um constante regalo: Pierre Arditi, Sabine Azéma, André Dussolier entre muitos outros.
Nos últimos anos ele deixou de lado os temas mais soturnos e apostou em convidar-nos para a celebração da vida e dos seus mais compensadores prazeres. Como se pudéssemos permanecer sempre numa jubilatória cantiga.
De facto, o Alain Resnais é daqueles que nos irão fazer muita falta!
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