sábado, 1 de março de 2014

HISTÓRIA: como se salvaram as obras de arte espoliadas pelos nazis

(a propósito do documentário «As Obras Roubadas por Hitler» de Peter Dormann)
O recente filme de George Clooney dedicado aos Monuments Men teve o condão de dar maior visibilidade ao esforço de preservação das obras de arte espoliadas pelos nazis e cuja integridade estiveram em causa, quando se acelerou o desiderato da Segunda Guerra Mundial.
De facto, Hitler e Göring tinham em comum um certo interesse artístico, que justificou o labor dos seus esbirros para competirem entre si na pilhagem das  obras encontradas em museus e casas particulares das zonas, que iam ocupando. Poder-se-á considerar que, na primeira metade da década de 40 os dois dirigentes nazis terão sido momentaneamente dos maiores colecionadores de arte do seu tempo.
No caso do führer havia o projeto longamente acalentado de criar um museu em Linz na Áustria, que deveria ser o mais importante do «império para mil anos» e por isso deveria conter as mais conhecidas obras de arte alguma vez concebidas pelo génio humano (conquanto que nem judeu, nem «degenerado»).
A partir da primavera de 1944, Hitler sabia que o tempo corria contra si, dependendo da maior ou menor rapidez com que evoluiria a preparação da bomba atómica com que contava infletir o rumo dos acontecimentos. Por isso mesmo dá ordens para abrigar os mais preciosos tesouros entretanto acumulados na mina de sal de Altaussee, na Áustria, em cujos subterrâneos foram agrupadas 6500 peças, entre as quais a estátua da Madona de Bruges de Miguel Ângelo ou o Retábulo de Gand dos irmãos Van Eyck.
Quando toma conhecimento do suicídio do seu chefe a 30 de abril de 1945, o gauleiter que tinha a responsabilidade da mina e do campo de concentração de Mauthausen, ali próximo, decide dinamitar a mina e destruir as peças ali conservadas.
É sem a colaboração dos referidos Monuments Men, só ali chegados a 12 de maio, que um conjunto de mineiros, resistentes e, até simpatizantes nazis conseguirão evitar esse crime, contando até com o apoio do próprio Ernst Kaltenbrunner para dissuadir o teimoso gauleiter.
Oriundo da região e contando aí com uma casa de férias, onde passava temporadas com a amante, o referido Kaltenbrunner enganou-se quando julgou ser possível livrar-se de sentença pesada no julgamento a que se submeteria enquanto um dos principais dirigentes da Alemanha nazi, graças a esse gesto derradeiro de lucidez.
Em 16 de outubro do ano seguinte ele seria executado por enforcamento em função da decisão do Tribunal de Nuremberga.
Baseando-se num livro do escritor austríaco Konrad Kramar, o documentário esclarece as circunstâncias rocambolescas em que foi possível preservar um importante acervo da arte mundial. E em que fica exposta a capacidade de «reciclagem» de alguns dos mais fanáticos militantes nazis de Altaussee, que são capazes de tirarem fotografias exultantes com os G.I.’s como se tivessem sido valorosos resistentes. Alguns deles até desempenharão funções políticas na Áustria do pós-guerra.


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