domingo, 23 de março de 2014

POLÍTICA: o sol a ser tapado com a peneira!

O texto de ontem («Manifesta falta de jeito!), em que tecia considerações pouco abonatórias para a direção do PS, nomeadamente para o círculo de «homens sem qualidades», que rodeia António José Seguro, suscitou um conjunto muito significativo de reações em militantes e simpatizantes socialistas, que se dividiram entre o apoio a essas opiniões e a sua veemente crítica, que chegou ao ponto de qualificar de «infiltrado» quem as emitia.
Vamos lá então pôr os pontos nos is:
1. não é o PS um partido democrático onde a pluralidade de opiniões é um património intrínseco à sua História?
É claro que a resposta é afirmativa, muito embora seja esquecida por alguns camaradas, que internamente utilizam a regra de «quem não é por nós é contra nós». 
Nesse sentido os que acusam quem, na condição de militante ou de simpatizante socialista critica a atual Direção, de fazerem o jogo dos adversários políticos, seguem a cartilha da Direita, quando pretende silenciar a contestação ao foguetório propagandístico do governo para «não assustar» os credores.
2. a atual Direção do PS tem sabido gerir convenientemente a pluralidade de opiniões interna?
Muito embora tenha ocorrido uma mudança de comportamento depois do momento em que António Costa quase lançou a candidatura alternativa à liderança do Partido, o que se tem verificado é mais uma alteração de forma do que de conteúdo. Porque, perante o sucedido na Distrital do Porto nas últimas autárquicas, que implicou a perda de Matosinhos, seria crível a responsabilização de quem a causou. E, no entanto, José Luís Carneiro continua a aparentar ser o homem de confiança de Seguro para as autarquias!
3. a mensagem política do PS está a chegar ao seu eleitorado potencial?
A sondagem desta semana no «Expresso» é elucidativa, quanto aos limites de uma Direção incapaz de traçar uma estratégia coerente e consistente de marketing político (ou, noutras palavras, de agitação e propaganda), como se viu nas reações contraditórias de porta-vozes do Largo do Rato ao Manifesto para a Reestruturação da Dívida ou à lamentável intervenção de Óscar Gaspar a desmentir televisivamente as «divergências insanáveis» declaradas pelo secretário-geral na antevéspera.
4. a forma como a atual Direção sempre recusou defender a herança de Sócrates não constitui o pecado original de uma Visão de futuro, que surge desconhecida para o eleitorado?
Sim, porque enfrentando sem receios algumas estratégias então seguidas, que a evolução da crise e os comportamentos dos líderes europeus mostraram ter sido improcedentes, o essencial da Visão então assumida pelo Partido continua atual: a qualificação do Capital Humano mediante maior aposta na Educação; o aprofundamento do investimento nas energias renováveis; a aposta nas novas tecnologias e nos apoios à investigação; a defesa de melhor saúde para todos os portugueses; o combate à pobreza, etc.
Entre 2004 e 2010 os portugueses foram mobilizados para contribuírem para um país mais moderno e próspero. O que ouvem hoje do líder socialista? Que não vai fazer promessas do que não consiga cumprir? É essa a mensagem mobilizadora para um eleitorado ávido de acreditar em quem lhe possa transmitir esperança e mostre credibilidade para a transformar em realidade?
Em suma, apesar de ouvir os comentadores menos conotados com o atual governo a profetizarem que a vitória do PS por um deputado nas europeias é a melhor notícia para a direita (que chegará às legislativas com um líder fraco como antagonista!), eu irei fazer jus aos quase trinta anos de militância e votarei obviamente no PS! Mas temo que quem não gosta de ouvir estas reservas apenas esteja a tapar o sol com uma peneira...


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