Diz-se que o jazz nasceu em Nova Orleães. Embora a verdade histórica não seja propriamente essa, a simples existência dessa lenda deve muito a Buddy Bolden ou a Jelly Roll Morton, que lhe deram uma conotação boémia, senão mesmo vagabunda. Muito embora se tratasse, para a maioria, de uma música quente, cheia de energia e vitalidade. Mas houve quem a apelidasse de «jass», pressupondo que o nome proviria do perfume de jasmim, então usado pelas prostitutas de Storyville.
Acabou por ficar «jazz», muito embora ninguém saiba explicar o porquê! Embora outros teóricos afirmem que a mudança dos esses para os zês tenha tido a ver com o facto de, sem o jota, «jass» significar «rabo».
Hoje ainda perdura a discussão sobre a origem e a razão de ser da palavra. Do que não se duvida é de ter-se tornado num sucesso por se tratar de uma música acelerada a surgir ao mesmo tempo que o cinema, que correspondia à projeção acelerada da fotografia.
Em 1919 havia bandas de todos os estilos e etnias em Nova Orleães. O grupo branco mais conhecido era o do percussionista Papa Jack Laine, que também tinha os ofícios de ferreiro e de boxeur amador. Foi ele o organizador da Reliance Brass Band, que manteve ativa por mais de quarenta anos. Mas outros grandes instrumentistas e compositores começaram a surgir como Freddie Keppard, Kid Ory, Joe Oliver e um menino prodígio cujo estilo agressivo impressionaria todos quantos com ele tocariam nos cinquenta anos seguintes: Sidney Bechet.
Em 1914, Freddie Keppard, um dos melhores músicos de jazz de Nova Orleães deixou-a e partiu para Los Angeles onde, com outros seis conterrâneos, formou a The Original Creole Orchestra. Durante quatro anos, e deslocando-se de autocarro, eles percorreram o território norte-americano até se fixarem em Chicago.
Jelly Roll Morton disse um dia, que Keppard tocava as notas mais altas e mais baixas do seu trompete como nunca ninguém o fizera até então. E comentava-se que os clientes sentados mais perto do palco pediam para mudar de mesa, quando ele começava a tocar.
Corpulento e forte, uma noite, quando estava a atuar, soprou o trompete de tal forma, que a surdina soltou-se e foi parar ao meio da pista.
Mas, mesmo com um sopro tão poderoso e tanta habilidade, Keppard tinha tanto medo de se ver imitado por outros músicos que costumava tocar com a mão escondida sob um lenço.
Após o lançamento das primeiras grafonolas fabricadas pela Victor em 1901, a indústria fonográfica começou a tornar-se num enorme negócio.
Os artistas que, então, vendiam mais discos eram Enrico Caruso, que cantava óperas, e John Pjhilip Souza com as suas bandas militares. De início ninguém perspetivou na gravação de discos de jazz. Porque considerava-se um tipo de música, que exigia a presença de um público para a ouvir e apreciar ao vivo.
Em dezembro de 1915 a Victor Talking Machine Co. convidou Keppard a gravar um disco com a sua banda, mas ele recusou a oferta: disseram que ele tinha medo de ver outros músicos a comprarem os seus discos e a roubarem-lhe a técnica. Por isso deixou passar a oportunidade de se tornar o primeiro músico de jazz a gravar um disco.
Bechet é tido como o poeta da música de Nova Orleães. Desde que surgiu, logo foi tido como um génio. A família ainda esperou que a música fosse para ele um hobby passageiro, mas ele cedo compreendeu que faria dela a sua carreira pessoal. Aos 10 anos já se integrava com toda a naturalidade na banda de Freddie Keppard!
Bechet passava a sua personalidade para o trompete: usava muito o vibrato, mas não prescindia de um estilo agressivo, influenciado pelo blues.
Na época dar liberdade ao músico para explorar a sua própria voz era uma novidade. Tradicionalmente o compositor dava as diretrizes, que os instrumentistas deveriam respeitar.
Ainda na adolescência, quando Bechet começou a ficar famoso, viam-no capaz de pegar num velho clarinete e extrair sons que ninguém imaginava possíveis.
A exemplo do que sucedera com Jelly Roll Morton, Sidney Bechet deicou a sua cidade natal e viajou por todo o sul e o Middlewest. O jazz estava a sair de Nova Orleães e a espalhar-se pelo resto do país.
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